domingo, 16 de agosto de 2009

Sexta Parte

A Ilusão é a parede deturpada de nossa percepção


-I Love Teddy Bear com Lollypop de Alcaçuz, disse o garoto.

O segundo não permitiu que a ilusão abandonasse sua circunstância real. Tendo a inocência molestada, procurou usar o pretérito como premissa para vivenciar os tempos futuros.

Peregrinava o homem sobre um mar dourado de gotas ásperas e sólidas, onde a inconstância da brisa infernal difundia a morte através do sal, mas também dava vida às amorfas dunas que ali eram formadas. A escassa vegetação, ornamentada com ossadas de animais, era estralada com faíscas pelo brilhante sol. Essa bola de fogo que dilata a esterilidade das coisas e atenua a longevidade dos fatos. A faca da necessidade perfurava o homem, paulatinamente, em intervalos de insanidade cada vez menores. Chega-se o fim. O fim daquele tormento, pois o indigente avista a mais fatídica ilusão: O oásis, seu paraíso particular. Forças surgem do vazio já consumido para que ele possa arrastar-se ao éden, mas são imediatamente evaporados. O olhar da bela mulher que se banha em tão límpidas águas é o responsável. Fascinado com a minimalista beleza que tais cansados olhos não conseguem compreender, apenas deixa que a bela dance. Ressoa do inimaginável o barulho das castanholas, das palmas e do sapateado, toda uma compilação arrebatadora para o dançar da fêmea. “Sirena de pelo rojo! Sirena de pelo rojo!”, repetia o macho incansavelmente. A fêmea movimentava-se com a sofisticação da meticulosidade. Movimentos sinuosos que costuravam um vestido d’água, colorido pelo espectro vindo da luz. Sirena de pelo rojo! Com a água na cintura, ele a agarra pelas mãos e a aproxima para um beijo. Ela apenas esquiva-se para o ouvido do macho, sussurrando suas derradeiras palavras:
-Decifra-me ou devoro-te!
Esfacela-se em areia a esfinge ibérica, dispersa no ar. O pobre homem ainda clama ao ridículo para tocá-la, mas intangíveis grãos apenas fogem sutilmente de suas mãos. Uma nuvem de pó árido e fino, este é teu oásis... Teu Paraíso.

O primeiro superestimou o sonho, deixando que este usurpasse a realidade. Sua inocência foi tragada e cuspida junto com o amor, onde agora, ambos são escarro.

Um jovem garoto é levado pelo pai a um show de Ilusionismo. Durante o espetáculo, o pequeno extasia-se com a capacidade que o mágico tem de desafiar as leis da física. Ao chegar em casa, diz ao pai que quando crescer se tornará um famoso ilusionista.O pai apenas responde que aquilo tudo não passou de uma ilusão, de uma fraude. "Mas por que papai?Por quê?". Indignado decidiu entender como aquele feiticeiro que ele passou a admirar o tivera enganado. Buscou ajuda ao Google, posteriormente encontrou um site em que explicava o mistério do ilusionista. Decidiu assistir o show no dia seguinte, mas desta vez sozinho. Não foram todos os truques que o garoto conseguiu entender e visualizar, mas sentiu-se orgulhoso em saber que aquilo que o enganará, já não surpreender mais.

Com o soar da ampulheta o que era ilusão passa a ser fraude e a inocência caminha conforme a realidade. Nunca exaurida, apenas metamorfoseada.

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