domingo, 16 de agosto de 2009

Quinta Parte

Surreal oração a divindade Esperança


“Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das coisas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura-nada menos que a quimera da felicidade - ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão”.


Tive um curta prosa com o Velho careca dos sonhos alheios. Dentre toda aquela verborragia analítica, ele me disse algo relevante. Dissera ter visto um pequeno grande homem em construção, agarrar-se neste frágil fio da meada que o levava a sonhar. “Mas que modo interino de morrer, de mergulhar nessa realidade onírica, a fim de procurar respostas para essa eterna incógnita” respondi eu. “É, mas Ele só esquece que possui algo consolador para essa lacuna.”, replicou ele. Perguntei o que seria esse algo. Respondeu-me com um sorriso desbotado de sarcasmo.
Tu continuas a caminhar nessas ruas nostálgicas, mas desta vez o foco da ruína não são os prédios, e sim os alicerces da tua mente. Fato esse observado com o lembrar daquele colorido pirulito que tu ganhaste com alegria quando pequeno, mas que o tempo, o triste tempo, tratou de amargar.
Resquícios do acaso, que aderidos ao chão, convergem-se em espelhos aquosos. Foram estes os responsáveis por refletir a luz aprisionadora das trevas. Mas nem essa esplendorosa guia foi capaz de ofuscar o brilho da mensagem epifânica. Porventura essa luz se foi, deixando-te apenas a faísca dela em tua mente. Oh, meu querido está só, fraco e sujo nessa volúpia escuridão devoradora. Sei que tu esperas como um insone o primeiro raio de sol, mas não chore. Por favor, não chore, não quero ver a melancólica aurora que o brilho difuso das tuas lágrimas forma com o amanhecer.

Se há um suscitante estreito que conecta meu oceano ao teu, é por essa ligação que chegará a garrafa que eu lancei ao mar. Não sei se tu amas os gregos e seus presentes, mas deixa esta garrafa emperrar em tua praia, pois como o cavalo que foi dado a Tróia, ele concedeu aos gregos o caminho para derrubar o vil império ameaçador. O que há dentro dela?Vaga-lumes. Mas diferente do histórico artefato, eles não te darão o que tu precisas, mas te ensinaram a construir o que tu queres. Vem meu querido, vem me mostrar a tua cabana de luzes esperançosas. Essa miraculosa esperança, a eterna consolação dos homens.

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