segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Coceira beata do samba de caixinha


...

Vai pegar feito bocejo
ou que só sentido vê
instigado num lampejo
despertado pelo beijo
que o baile parou pra ver
Dá marchinha fez silêncio
num silêncio escutei
uma disritmia em meu coração
que se instalou de vez

...

Azul-Claro


Que profundo olhar azul-claro tão intenso e atraente. Que profundo olhar azul-claro. Tão viril e enigmático que nos assusta, mas nos delicia a decifrá-lo, a mergulhar e ser perder. Perder-se nesse ensejado olhar azul-claro. Se comparados, são banais as águas das Antilhas, a cor desse olhar é vívido e único. Tamanha singularidade é vista com a pueril superfície da infância que ele ainda possui. Tão lindo o meu olhar azul-claro. Ele vai caminhando pelo tempo, aprendendo sobre a vida da maneira que pode, seja com o inebriar do álcool, da neblina do seu cigarro, dos espasmos metanfetamínicos, ou até da ardência da coca. Ele vai caminhando com o que sabe, com o que tem. Um amor não basta. Mas azul-claro vai caminhando com o que vem. Até que um dia ele para, o meu olhar azul claro, para no silêncio. No início agonia, mas no findar se revela. Surpreende com lágrimas esse olhar que já não é mais de menina, é de um azul-claro maturado para enfrentar essa cruel vida.



Effy.

domingo, 23 de agosto de 2009

domingo, 16 de agosto de 2009

Uma carta.

Leitura realizada por M.,em sua carta autoral, para Luci Grey em um domingo de agosto.Trecho extraído do conto "O Monstro", contido no livro "Ensaio sobre a Revolução".



Lyon, 09 de Agosto de 2009


Ma Chérie,



O quê eu sinto, de forma simultânea, e penso de mim mesmo, resume-se em duas palavras: Nojo e vergonha. O casamento ideal de uma evidência gritante que foi cegada pela inocência à espera de sua ultrajante maturação. Não sinto vontade de chorar, ainda bem, pois as lágrimas aliviariam o que o tempo já tratou de pacificar.

A vergonha consiste em ter me tornado subserviente a um ser que representa as intemporais virtudes do homem: Vileza, manipulação e egoísmo. E tudo isso me faz sentir nojo da minha fraqueza e do homem. A princípio usei da compreensão, mas ela foi emotiva e errônea, pois acreditou em palavras belas e ensejadas. Eu sempre ouvia um “amo-te”, mas antes nunca havia parado para me perguntar “onde? Como?”. Caso tivesse feito, imagino que a resposta seria “Esse amor de que você fala. Eu não o sinto, não o toco, tampouco o vejo. Apenas ouço essas palavras belas, mas fáceis. E o que devo fazer com elas? Colocá-las em um ostensório e rezar para que um milagre se concretize?”. Foi exatamente isso que eu fiz. Mas até para um cético fundamentalista que reza de olhos vendados, iludido na penumbra da consciência alheia, esse misticismo torna-se, com o tiquetaquear do tempo, enfadonho e começa a cheirar a decadência.

Mesmo assim, a inocência não tinha sido totalmente metamorfoseada, esse molestamento emotivo tinha sido apenas o prelúdio. Tal pureza precisava chafurdar-se, emporcalhar sua probidade de modo irreversível. E ela o fez. Foi por isso que mesmo desvendado o cético continuou a rezar, mas dessa vez de olhos fechados e coração exangue, ensandecido para que ainda houvesse entre ele e sua causa uma migalha desse amor, mesmo que sujo, que pobre. Quando não houve mais sangue e o desespero se materializou, os olhos foram abertos e a letargia do cético quebrada com um impetuoso vômito sobre aquele altar adornado de sentimentos artificiais.

Uma vez um psicopata me disse que o homem é capaz de cometer o mais hediondo crime e ser indultado se possuísse a desculpa conveniente para tanto. E ele estava certo. Os nazistas, a exemplo, realizaram o holocausto com base na superioridade da raça ariana sobre as demais. E você ma chérie? Realizou seus atos baseando-se em que? Foi ao tentar compreender o incompreensível que eu esgotei o meu futuro em prol de um presente retroativo. Ma chérie, você ao menos tem essa desculpa? Esse álibi irrefutável para ações nefastas?

Depois usei do julgamento, que, diferentemente do imaginário popular, não foi indiferente nem gélido, e sim coerentemente imparcial. Caso não tenha ainda esboçado suas desculpas, atrelo-a ao meu veredicto: Um estratagema sórdido de um ser que foi vítima do amor e, por isso, escravizou outrem com base em sua vendeta arrivista, cujos beneficentes são seus inconscientes preceitos egoístas.

Você, má chérie, poderia ter me libertado desde da nossa última conversa, sentados cara à cara, no shopping, naquela mesma mesa onde tudo começou.Onde foi-lhe entregue o meu inventário. Mas não, eu era tão importante para você com minha capacidade racional de esmorecer suas frustrações e tornar-te sublime quando o espelho da tua consciência refletia uma imagem grotesca e repugnante. Você me cativou com seu ilusionismo intelectual e sua linguagem apelativa. Finalizando tudo ao enraizar em mim a semente da esperança inalcançável com essas improferíveis palavras “Agora, eu não quero ficar com você. Eu quero ficar com outra pessoa. Mas quando eu quiser ficar com você... Eu fico, porque eu sou... um ESPÍRITO LIVRE”.

Intitulo-me um sonhador ma chérie. Acalmo-lhe dizendo que tal experiência não mordeu meus sonhos ao ponto de troná-los mórbidos ou rancorosos. É por isso que vou caminhar e não fugir. E mesmo que o fizesse, estaria fugindo para outro lugar melhor que este. E isso. Isso se chama “migrar”. Finalmente vou migrar para onde migram os pássaros.

Ps.: Sei que essa carta pode gerar uma necessidade de resposta e, por conseguinte, de uma conversa. Mas peço-lhe, por favor, que não tente, pois a verdade sempre será salientada no modo como somos, na pessoa que si é. Sem mais ressalvas.

M.

Décima primeira Parte

Início anunciativo de tempos vindouros.



A porta rangia enquanto o velho careca de poucos fios prateados adentrava em sua casa. Trancou-a com a mesma placidez da abertura, ouvindo mais uma vez o ruído que para ele já era rotineiro.
-Já são quase doze horas!- disse em tom de preocupação. - Tenho que preparar o almoço. Acho que passei tempo demais naquela praça, embora me tenha sido muito produtivo.

Observava com riso a sua recente pintura, seus olhos reluziam um ar de satisfação, como se dissesse a si mesmo “Este quadro arrepiaria, com inveja, os cabelos da barba do velho Monet”. Era dessa lúdica pretensão que gargalhava consigo mesmo ao colocar o quadro para secar:
-Arrepiar de inveja a barba do velho Monet?!Como pode isso?

Depois do almoço sentou-se confortavelmente no sofá, observando a limitada paisagem que sua janela o proporcionava. Tinha o olhar persistente, mas vago. Havia se dispersado em suas dissipações antigas. A preguiça do permanecer na retrospectiva o lembrou que tinha obrigações a fazer, olhou de soslaio para sua estante de livros.
-Esqueci que hoje era dia de te arrumar.

Levantou-se com a mesma placidez de sempre, caminhando vagarosamente para sua única obrigação diária. Era uma estante tão antiga, assim como os livros que ela abrigava, um acervo fenomenal de um eterno amante da literatura. Retirava-os com paciência, muitas vezes abrindo-os e lendo aquilo que a memória o guiava. Encontrou um antigo livro de capa amarela com um pássaro estampado na capa. Folheou algumas páginas, como um errante que procura em uma bússola a direção exata para o destino que ele desconhece. Parou em uma determinada página, enquanto seus olhos planavam no papel, mergulhando sua mente nas palavras que ali havia:

"Consta que o mundo tem muitos anos. Porém raramente ele dura mais de um século. Somos nós que envelhecemos... A maior parte do tempo o mundo desperdiça dormindo... Apenas de vez em quando, ele esfrega os olhos e desperta para a consciência de si mesmo".

"A vida precisa de esquecimento. A saúde do homem depende de sua capacidade de esquecer. De cada ação e de cada momento de felicidade também faz parte do esquecimento. O conhecimento nunca deve se sobrepor a vida".

Fechando o livro, colocou-o junto à pilha dos demais que estavam sendo retirados da estante. O próximo que a mão do velho caçou, em ordem de sua mente, foi um atual roteiro cuja página de destino ele conhecia. Abriu-o com certa ansiedade, dessa vez leu em voz alta para si:


"Porque mesmo que você não saiba para onde vai, ajuda saber que não está sozinho. Ninguém tem todas as respostas. Às vezes, o melhor que podemos fazer é pedir desculpas. E deixar o passado no passado. Outras vezes precisamos olhar para o futuro, e saber que mesmo quando achamos que vimos de tudo, a vida ainda pode nos surpreender. E ainda podemos surpreender a nós mesmos".

Viu cair do roteiro um pedaço de papel. Abaixou-se para pegá-lo, mas não chegou a fazê-lo, pois uma dor pontiaguda que surgira na coluna o tolheu. Com o corpo em agonia, permaneceu parado a fitar o que aquele pedaço de papel o reservava:


A Liberdade

Que espaço o passado reserva a minha liberdade hoje?

A liberdade é uma eterna conquista.


Foram essas máximas que o levaram a perceber que toda essa higiene não passou de um lapso pessoal. Não era dia de limpar a estante. Ele já tivera feito isso ontem. Aos poucos foi recolocando tudo em seu devido lugar, inclusive sua vida. O relógio marcava quase dez horas quando ele se deitou. Dessas vez com uma nova perspectiva,dessa vez com novos sonhos.

O galo não chegou nem a cantar e o velho careca de poucos fios prateados já estava despertado. Tirou do seu antigo encarte o seu futuro disco-Imitação da Vida; Ligou sua vitrola; Caminhou até sua horta orgânica; Colheu algumas folhas de menta; Tomou chá verde com mente; Vestiu sua roupa de fitness e calçou seu tênis; Retirou seu ipod do carreador e o pôs nos ouvidos; Abriu a barulhenta porta com um sorriso e saiu. Saiu para caminhar.




FIM

Décima Parte

Minha cara Marcella e eu.


Em uma manhã de raios saudáveis, amontoavam-se várias crianças em um parquinho colorido. Era quase uma balbúrdia de pequeninos seres correndo e divertindo-se em meio aqueles brinquedos. Seus pais quando não os acompanhavam nas travessuras, apenas os observavam de longe. Sentado em um dos bancos, encontrava-se um garotinho cabisbaixo e de pernas juntas, olhando atenciosamente a verde relva primaveril. Observava uma fila contínua de formiguinhas, todas unidas, todas em grupo. Um doloroso pensamento o fez levantar a cabeça, o fez perceber que todos naquele ambiente estavam acompanhados, inclusive o harmonioso canto daquelas crianças, inclusive sua solidão que tinha a ele, mas ele nunca a apalpava. Ela nunca o afagava. Seguindo essa linha vazia o garotinho se dispersa em seus pensamentos.
-Ei!Menino!!!
Essa voz soou em seu pensamento como que um instantâneo resgate para um recém naufrágio.
- Isso é comigo?
-Sim, é como você mesmo! Quer brincar?!
- Briiiinncar?
- Quer ou não?
- Queero siim!
-Então vem. –Segurou a garota na mão do garotinho, puxando-o para si. Ao sentir aquela mão tocar a sua, ele teve a visão do prólogo de seu novo futuro. Era ela, era Ella! Era Ella!


Já era noite quando ele voltou ao parquinho. Uma noite invernosa com uma grande e gorda lua em que suas estrelas imprensavam-se umas com as outras para que pudessem ser reparadas, pelos homens, em meio à voluptuosidade da lua. Estava fisicamente sozinho, carregando consigo um carrinho de mão. Estancou-o defronte ao banco em que costumava se sentar. Posteriormente, já sentado nele, sentiu o estranho saber de estar revivendo algo, mas não por martírio, e sim por tentar encontrar novamente algo. Ironicamente fixou seu olhar na relva, não tinha o mesmo viço de outrora, mas sabia que isso era temporário. Nos tempos de colégio, ouviu falar sobre a vida dos servos medievais, de como as condições de cultivo da época exigiam deles um constante trabalho e cuidado, desde do cultivo até a colheita.Levantou novamente a cabeça, dessa vez deparou-se com os tijolos contidos em seu carrinho.Eram similar a um mosaico, partes visivelmente distintas de um artefato que se formaria.Levantou-se em direção ao carrinho, segurando-o com firmeza nos braços dele.Um súbito calafrio espalhou-se por seu corpo.Meu futuro, é o meu futuro. Sugado novamente por seus pensamentos, não percebeu a presença de um pássaro pousando em seu ombro. Aprender a lidar com os inescapáveis acontecimentos arbitrários que o ser humano é submetido em suas vidas. Não te preocupas, haverá sempre alguém para tratar com zelo dos teus calos, ao decorrer do caminho. Foram esses os pensamentos que precederam seu retorno a realidade, não se sabe se eles eram frutos de sua vertigem ou se eram, do pássaro.Pois quando ele despertara, o pássaro já havia voado.De uma coisa tinha certeza. Ao futuro.
Ao futuro.

Nona Parte

Nova perspectiva de vida.


Um velho dirigia-se aquela notória praça, a fim de tranqüilizar-se com sua própria essência. Levava consigo seus objetos de pintura. Planejava transpassar para a branca tela uma nova imagem que tivera visto dessa praça. Estava ela hoje ornamentada para um ato efervescente, parecia até que as crianças que ali brincavam; os cachorros que corriam; as velhinhas que cochichavam da vida alheia; os passarinhos que chilreavam o horizonte que se iniciava; sabiam a grandiosidade representativa daquele dia. Todos estavam impecáveis, prontos para serem personificados em uma tela com cores motivadoras de uma alegria borbulhante.

Não, não!Isso não esta certo! Embora haja ideais libertários, a expressão que aqui vejo... Esse cubismo invadiu minha pintura! O que há aqui são formas de um obscurantismo geométrico cujas cores dialogam sobre um cinza monocromático que persiste a clamar pelo negro e seus afins. Isso não esta certo.

Fitava a obra coçando sua careca de poucos fios prateados. Sem saber o que fazer, afligia-se. Os seres e as coisas notaram sua inquietação, mas tentaram manter a calma, mostrando ao velho homem que a resposta era evidente e o botão da solução estava prestes a brotar. Já sujo com a tinta que usara, percebeu o contraste entre essa e a coloração da praça.

Por que esperar se eu posso fazer o futuro acontecer agora?

Dessa perspectiva descontínua decidiu remontar a pintura com a subjetividade e a irracionalidade que era inerente ao pintor e a obra, decidiu não jogar fora a tela- queria usar esse estrume como matéria-prima para a flor que fora citada, uma flor que seria cheirosa e sã. Foi buscar no subconsciente dos sonhos a inesgotável sabedoria para recriar-se, mas diferente do surrealismo, usou da coerência da sua aquarela para adequar a imagem que deveria ser pintada com o equilíbrio de seu expressionismo real.

Formidable, entonces mi preciado, ¿Qué te parece?

Cravou seu olhar com obstinação naquele chafariz que se encontrava no meio daquela tela- agora de cores vivas que brincavam entre elas; cochichando o outrem; chilreando a liberdade das palavras; correndo para o cordial afago.O sol parecia tê-lo tornado vivo. E foi nessa pupila aquosa que o velho homem viu o mais lindo reflexo de sua vida

Oitava Parte

Narração implícita de pensamentos póstumos

Respeitável público! Esta começando mais um espetáculo deste irreverente circo. Devem estar a se perguntar o porquê de um simples palhaço ser o mestre de cerimônia. Vou adiantar-lhes que se esperam ver os triviais números, inclusive aquele que me foi atribuído, dirijam-se imediatamente a bilheteria para serem ressarcidos. O show hoje caminhará por um perfil diferente, o perfil das anedotas, dos épicos, ou até mesmo da fofoca. Tudo isso dependerá exclusivamente do julgamento pessoal de cada um. Mas devo acrescentar que isso pouco me importa, afinal eu sou a piada e não o público. Comecemos.

Era um extenso reinado divergente em ruínas, mas convergente no caos de um selvático jardim de babel que o usurpou. Com olhos turvamente avermelhados que carregavam consigo um olhar indireto e doente, observava o elefante, ser que um dia já foi rei, o seu reino em destroços. Sempre deitado em sua particular letargia. Acresce-se platéia que para tal ser deitar-se, é um fato, no mínimo, preocupante. Mas devem indagar qual razão que levou o fim a esse animal. Bem, em um passado não tão remoto, quando este possuía a nítida onipotência do seu ser- altura colossal; pele espessa e acinzentada como uma armadura de metal; patas de pilares grandes e vertiginosos; presas de um marfim reluzente; orelhas intimidadoras e olhos, sim, seus olhos: paralisantes esferas negras, capazes de sugar a luz com o simples olhar-, o cotidiano lhe mostrou que havia algo faltando nos domínios do seu pomposo reino. O elefante morava sozinho, como os machos de sua espécie, essa já extinta, pois ele foi o único que restou. Pensou então em plantar um jardim, mas não um jardim qualquer. Deveria ser um jardim digno de reis e deuses. Ouviu falar que o homem possuía a sabedoria necessária para o faraônico projeto. Mesmo sabendo da natureza humana, não deixou de contratar seus serviços. Comprou as sementes, eram nove no total e com o descer da primeira chuva, seu sonho se concretizava. Brotou com tamanho ímpeto e seiva que, dentro de pouco, era a mais vasta, folhuda e exuberante criatura do mundo.

Nascia uma vida de delícias, prazeres e agitações alegres. Mas digo-lhes: Ninguém se firme na felicidade presente, pois nela há sempre uma gota da baba de Caim. Tic-tac: O jardim se multiplica pelo castelo. Tic-tac: O jardim funde-se harmonicamente ao castelo. Tic-Tac: O jardim deteriora o castelo. Tic-Tac: O jardim tragou o reino para si. Era chegado o término.

Desculpem as lágrimas, pode não parecer, mas a empatia habita meu coração. Mas quem se importa com as lágrimas do palhaço?Quem se importa?Ouço objeções da platéia: “Eu me importo... Eu me importo”. Pode ser que agora sim, mas no fim do espetáculo, no acomodar de suas camas, acordarão com o olhar voltado novamente para seus próprios narizes. É simples digníssima platéia: O homem tem o egoísmo como sua segunda pele e a hipocrisia como seu hediondo vício. Não se aflijam, há máscaras para esconder meu rosto imundo.

Todo fim antecede um novo começo. Disperso-me temporariamente para que o clímax comece, junto a direta vida que dou aos personagens.Conheçam o monkey man.

-Nuvens revoltosas pintadas sobre uma abóbada que passeia entre o vermelho e o alaranjado. Deus se tu moras aí, como posso chamar tal imagem de Céu?
-A natureza apenas sente-se benevolente a ti.
-Tanto tempo trancafiado pela minha própria loucura depreciadora que agora me faz parecer ouvir vozes.
-Então abre a janela da aceitação e deixa a restauradora brisa da lucidez nutrir teus sonhos e aspirações. Sente o primeiro raio-de-sol tocar a instabilidade das tuas impressões e a presunçosa lembrança dos teus afetos. Pois cada estação da vida é como uma edição, que corrige a anterior, e que será corrigida também, até a edição definitiva, que o editor dá de graça aos vermes.
-Quem é você?
-Apenas um velho monkey man que te observa com minúcia.
-O que você quer?
-Não use dessa miopia intelectual para discernir os fatos. Quando nos conhecemos e trabalhamos nossas deficiências, a persistente capacidade de ora simplificar, ora complexar os fatos , se equilibra.
-Não percebe que não tenho nada?Só esse jardim que há anos tento cortá-lo, queimá-lo, mas ele sempre renasce para me consumir.

-Escute-me. Não caminhe para essa rua, há sempre um fim ao percorrê-la. Venha ser livre, você sabe quem eu sou. Não se esqueça que você ainda pode ser O MELHOR.
-Mas eu não tenho nada.
-Então também não tem nada a perder. Todos nós podemos ser livres. Talvez não com palavras, talvez não com o amor, mas talvez com sua mente
. É essa que alimenta a seiva do teu jardim, é esse que te mantém estagnado no ponteiro do pretérito, na ampulheta do anacronismo.
-Conheci o amor aqui, aprendi a amar aqui. Não posso.
-Eu vi o amor multiplicar a miséria, e vi a miséria debilitar o homem.
-Onde?
-No reflexo dos teus olhos.
-Eu não posso abandoná-lo, ele foi meu jardim, meu tudo!
-Exatamente: Foi. Mas também foi o produto da conduta humana. Olha teu reflexo nestes espelhos de águas sujas. Não vê que se cobre com um lençol do vazio?Não vê que se torna um peso morto no mundo à espera da última reciclagem?Prefere continuar a bater inoperantemente suas asas sem levantar vôo?
-Eu não sei o que fazer.
-Um “sim” em aceitação e uma “boa sorte” em conclusão, seriam um inicio satisfatório.

Caminharam juntos por um tempo. O monkey man a observar os olhos do elefante. Olhos pretos e tranqüilos, pouco turvados com um olhar direto e são. Carregavam ainda uma expressão de edições passadas, mas isso é efêmero. Efêmero como a vida. É assim admirável público que termino esse espetáculo. Fim.

-Ma-ma-mãe. O palaço disse fiiim? Indagou o jovem garoto.

Sétima Parte

Hipocrisia Eminente



"Nós, por conseguinte, representantes dos ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA, reunidos em CONGRESSO GERAL, apelando para o Juiz Supremo do mundo pela retidão das nossas intenções, em nome e por autoridade do bom povo destas colônias, publicamos e declaramos solenemente: que estas colônias unidas são e de direito têm de ser ESTADOS LIVRES E INDEPENDENTES; que estão desobrigados de qualquer vassalagem para com a Coroa Britânica, e que todo vínculo político entre elas e a Grã-Bretanha está e deve ficar totalmente dissolvido; e que, como ESTADOS LIVRES E INDEPENDENTES, têm inteiro poder para declarar a guerra, concluir a paz, contrair alianças, estabelecer comércio e praticar todos os atos e ações a que têm direito os estados independentes. E em apoio desta declaração, plenos de firme confiança na proteção da Divina Providência, empenhamos mutuamente nossas vidas, nossas fortunas e nossa sagrada honra."

Trecho da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América.A única colônia americana que teve sua independência sancionada integralmente.

Sexta Parte

A Ilusão é a parede deturpada de nossa percepção


-I Love Teddy Bear com Lollypop de Alcaçuz, disse o garoto.

O segundo não permitiu que a ilusão abandonasse sua circunstância real. Tendo a inocência molestada, procurou usar o pretérito como premissa para vivenciar os tempos futuros.

Peregrinava o homem sobre um mar dourado de gotas ásperas e sólidas, onde a inconstância da brisa infernal difundia a morte através do sal, mas também dava vida às amorfas dunas que ali eram formadas. A escassa vegetação, ornamentada com ossadas de animais, era estralada com faíscas pelo brilhante sol. Essa bola de fogo que dilata a esterilidade das coisas e atenua a longevidade dos fatos. A faca da necessidade perfurava o homem, paulatinamente, em intervalos de insanidade cada vez menores. Chega-se o fim. O fim daquele tormento, pois o indigente avista a mais fatídica ilusão: O oásis, seu paraíso particular. Forças surgem do vazio já consumido para que ele possa arrastar-se ao éden, mas são imediatamente evaporados. O olhar da bela mulher que se banha em tão límpidas águas é o responsável. Fascinado com a minimalista beleza que tais cansados olhos não conseguem compreender, apenas deixa que a bela dance. Ressoa do inimaginável o barulho das castanholas, das palmas e do sapateado, toda uma compilação arrebatadora para o dançar da fêmea. “Sirena de pelo rojo! Sirena de pelo rojo!”, repetia o macho incansavelmente. A fêmea movimentava-se com a sofisticação da meticulosidade. Movimentos sinuosos que costuravam um vestido d’água, colorido pelo espectro vindo da luz. Sirena de pelo rojo! Com a água na cintura, ele a agarra pelas mãos e a aproxima para um beijo. Ela apenas esquiva-se para o ouvido do macho, sussurrando suas derradeiras palavras:
-Decifra-me ou devoro-te!
Esfacela-se em areia a esfinge ibérica, dispersa no ar. O pobre homem ainda clama ao ridículo para tocá-la, mas intangíveis grãos apenas fogem sutilmente de suas mãos. Uma nuvem de pó árido e fino, este é teu oásis... Teu Paraíso.

O primeiro superestimou o sonho, deixando que este usurpasse a realidade. Sua inocência foi tragada e cuspida junto com o amor, onde agora, ambos são escarro.

Um jovem garoto é levado pelo pai a um show de Ilusionismo. Durante o espetáculo, o pequeno extasia-se com a capacidade que o mágico tem de desafiar as leis da física. Ao chegar em casa, diz ao pai que quando crescer se tornará um famoso ilusionista.O pai apenas responde que aquilo tudo não passou de uma ilusão, de uma fraude. "Mas por que papai?Por quê?". Indignado decidiu entender como aquele feiticeiro que ele passou a admirar o tivera enganado. Buscou ajuda ao Google, posteriormente encontrou um site em que explicava o mistério do ilusionista. Decidiu assistir o show no dia seguinte, mas desta vez sozinho. Não foram todos os truques que o garoto conseguiu entender e visualizar, mas sentiu-se orgulhoso em saber que aquilo que o enganará, já não surpreender mais.

Com o soar da ampulheta o que era ilusão passa a ser fraude e a inocência caminha conforme a realidade. Nunca exaurida, apenas metamorfoseada.

Quinta Parte

Surreal oração a divindade Esperança


“Então o homem, flagelado e rebelde, corria diante da fatalidade das coisas, atrás de uma figura nebulosa e esquiva, feita de retalhos, um retalho de impalpável, outro de improvável, outro de invisível, cosidos todos a ponto precário, com a agulha da imaginação; e essa figura-nada menos que a quimera da felicidade - ou lhe fugia perpetuamente, ou deixava-se apanhar pela fralda, e o homem a cingia ao peito, e então ela ria, como um escárnio, e sumia-se, como uma ilusão”.


Tive um curta prosa com o Velho careca dos sonhos alheios. Dentre toda aquela verborragia analítica, ele me disse algo relevante. Dissera ter visto um pequeno grande homem em construção, agarrar-se neste frágil fio da meada que o levava a sonhar. “Mas que modo interino de morrer, de mergulhar nessa realidade onírica, a fim de procurar respostas para essa eterna incógnita” respondi eu. “É, mas Ele só esquece que possui algo consolador para essa lacuna.”, replicou ele. Perguntei o que seria esse algo. Respondeu-me com um sorriso desbotado de sarcasmo.
Tu continuas a caminhar nessas ruas nostálgicas, mas desta vez o foco da ruína não são os prédios, e sim os alicerces da tua mente. Fato esse observado com o lembrar daquele colorido pirulito que tu ganhaste com alegria quando pequeno, mas que o tempo, o triste tempo, tratou de amargar.
Resquícios do acaso, que aderidos ao chão, convergem-se em espelhos aquosos. Foram estes os responsáveis por refletir a luz aprisionadora das trevas. Mas nem essa esplendorosa guia foi capaz de ofuscar o brilho da mensagem epifânica. Porventura essa luz se foi, deixando-te apenas a faísca dela em tua mente. Oh, meu querido está só, fraco e sujo nessa volúpia escuridão devoradora. Sei que tu esperas como um insone o primeiro raio de sol, mas não chore. Por favor, não chore, não quero ver a melancólica aurora que o brilho difuso das tuas lágrimas forma com o amanhecer.

Se há um suscitante estreito que conecta meu oceano ao teu, é por essa ligação que chegará a garrafa que eu lancei ao mar. Não sei se tu amas os gregos e seus presentes, mas deixa esta garrafa emperrar em tua praia, pois como o cavalo que foi dado a Tróia, ele concedeu aos gregos o caminho para derrubar o vil império ameaçador. O que há dentro dela?Vaga-lumes. Mas diferente do histórico artefato, eles não te darão o que tu precisas, mas te ensinaram a construir o que tu queres. Vem meu querido, vem me mostrar a tua cabana de luzes esperançosas. Essa miraculosa esperança, a eterna consolação dos homens.

Quarta Parte

Silhueta corroída da autocomiseração


É dessa espreitante névoa densa que reside uma nostalgia estilhaçada. Quisera tu ser só isso, mas veio a chuva. Ela veio trazendo consigo gotas de tristeza e aflição. Tratou de nutrir o natural frio da noite com a inércia iminente. Chuvinha graúda, constante que dilacera e agoniza.

Se um dia te oferecerem um corcel negro dos tempos medievais e um asno medíocre dos tempos atuais, qual tu escolhe?Prefira o asno da paciência, pois o corcel do desejo cego descansará na margem da obsolescência, aguardando a afável misericórdia do próximo realista.

A chuva se foi, expulsa pelo farol amarelo, que te orientou o caminho. Este ficou alagado por poças de um vazio ainda não preenchível. Agora elas desenham um recado da rápida e estratégica chuva para um coração ofegante: Usa a astúcia, o olhar chamejante, resoluto daquele atrevido sexy que não teme viver o seu impossível.

Terceira Parte

Efusão de palavras pessoais que sinalizam um estado particular



Todas as experiências são válidas, por mais banais que elas sejam sempre te darão um acréscimo de sabedoria para futuras vivências. Ao decorrer do caminhar, alcançará uma premissa tão granítica que até o pior dos castigos,a saudade, será enfrentada com a astúcia que nunca pensou que teria.Ela nos ensina que há momentos que as lágrimas são necessárias,que se não comemos,nem agimos de acordo com nossa rotina é porque ainda machuca,a ausência ainda nos torna dependente.Tento transformar esses sentimentos, não deixar que eles me dominem, uso-os como matéria-prima para reconstruir minha vida.Cobrir de cores deterministas e fulgurantes a capa fúnebre que me cobria.Escrevendo na parede da minha mente palavras dos terceiros,desenhando seus rostos e rindo involuntariamente de nossas aventuras.Tenho-os comigo,todos.Inclusive você meu Amigo,meu único.

Segunda Parte

Simulacro da subserviência desesperadora


Depois de ter escrito-as com meu sangue em pedaços do meu corpo com lagrimas da minha alma, eu me senti fraco. Debilitado para crer.Crer no amor que eu nunca soube,que eu nunca senti,que apenas minha amiga, a solidão, ensinou-me a idealizá-la.Foram golpes profundos, retalhadores,mortais que me proporcionaram uma segunda morte.Vaguei como um zumbi,procurando carne para alimentar,minha insensatez,minha rejeição.Mas eu acordei, eu vi que a vida nos deteriora com seus acasos,demora um tempo sim para conseguir remontar cada peca do espelho,cada fragmento.Mas um dia será feito.Eu aceitei a ficar do teu lado, porque sabia que o teu espelho ainda estava quebrado, eu sabia a razão que o levou a quebrá-lo e sabia que cada atitude sua foi decorrente disso.Assim como o amor, a felicidade e um sentimento inexplicável.E foi o limpar dos seus dedos de sangue,de ajudar a colar cada fragmento, de segurar tua mão e orientá-lo que me fazia feliz.Feliz ao ver o seu sorriso por saber que eu estava presente.Sei que se sente só,fraco e sujo,mas somos humanos.Aprendemos.Mudamos.Espera meu querido.O mesmo deus que leva teu anjo de ti, e aquela que me trouxe o meu presente,o meu divino.
Fica bem ,ta?
Te amo muito.

Primeira Parte

Atestado de óbito em vida.



Surpreendo-me a cada momento, a cada convívio, a cada olhar curioso.Não pensei que aquela atmosfera nublada,com gotas que se esforçavam para traçar o caminho de encontro da nossas palavras, seria o cenário ideal para minha personificação.Tudo o que eu lhe dei e continuo, e um acervo de coisas novas que sempre permaneceram exiladas em um baú.A luz, esse amarelo sinaliza algo,certo?Será um caminho?O desfilar de novos passos? O condensar de sonhos?O amplificamento destes? Para mim tornou-se mais que isso. Uma doença nova que surge, me fazendo sangrar, entorpecendo-me, viciando-me,dando-me vida... E como uma nova doença, a cura necessitara de um custeamento exacerbado para se descobrir a cura.
Fique bem meu AMIGO.

Ps.: Por que quero eu ser curado?Quando ela me levará sempre a morte. A um abraço longo e cálido a morte.

Notas de um solstício prolongado





Há um fenômeno que ocorre na Antártida, devido a sua

posição geográfica, onde o dia dura seis meses e, posteriormente, segue-se a absoluta noite de seis meses.

As dez notas que aqui se seguem, retratam um pouco o comportamento do pensar humano em sua própria noite semestral, representando de forma atemporal o sinal que sempre deve ser lembrado.






La Belle Personne.


Um filme poderia ser apenas um rosto, pois a essência não se constitui efetivamente nas palavras, ma sim naquilo que não poder ser verbalizado-seja o literário olhar ou a densidade dos gestos.

As leis da física podem ser alteradas?É possível que à meia-noite exista um sol amarelo que reverbere impetuosamente? Se Honoré fez Garrel- o Jean Pierre-Léaud da atual França- apaixonar-se devotamente por uma aluna e mergulhá-lo em sua impossível e trágica relação, o que não mais é possível?

Pode parecer mais uma citação e homenagem, mas o fato é que se tornou algo vivo, sublime, sem receio que a sua exposição o torne banal e vazio. Refiro-me caro leitor, a essa inevitável cópula entre o concreto e a sua transparente abstração.


Diálogo entre Junie e Nemours:

-Não tenho vergonha de conversar francamente. Eu pensei que houvesse uma coisa que você gostasse em mim. Minha franqueza. Imaginar que você pode não mais me amar é muito pior para mim do que aquilo que você chama de regras que eu fiz para mim mesmo. Eu sei que somos duas pessoas, então como qualquer um, nós podíamos estar juntos. Mas por quanto tempo? Se nós somos duas pessoas normais, por quanto tempo nosso amor vai durar?Amor eterno não existe, nem mesmo nos livros. Então amar significa por um tempo determinado. Seria um milagre para nós. Não somos diferentes de nenhuma outra pessoa. Otto é o único cara que vai me amar a vida toda. Pode soar bobo, mas é quase verdade. Se eu me der para você, eu vou explodir.

-Você não confia muito em mim, então.

-Eu não sou boba. Você é lindo. Todos gostam de você. Você conhece várias garotas... Eu conheci pelo menos duas delas. Assim como com elas, um dia, você vai partir para amar outras que você achar mais agradáveis. E eu não sobreviverei. Sem contar os ciúmes. O estado que a carta me deixou... Eu sempre pensei que você fosse amado, e estivesse amando outra pessoa. Talvez eu fosse capaz de perdurar minha tristeza... outros também.

-Não vai funcionar, Junie. Você não pode resistir sozinha a esse amor.

Porque eu estou armado. E não vou deixar você fazer isso.

[...]

- Junie Partiu ontem à tarde.

-Para onde ela foi?

-Não posso te contar. Ela foi para longe. Você não deve esperar por ela. Ela disse para não repassar nenhuma notícia, que não quer ouvir falar de você nunca mais.

-Obrigado...


Canção “Comme La Pluie” de Alex Beaupain:

Como a chuva nos faz falta por vezes.
Quando o sol nos mata
Quando seus raios nos parecem frios
Quando não se ama mais.

[http://www.youtube.com/watch?v=Ms3ueXukFrE]



Irreal, mas verídico



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Ontem me apaixonei, fulminantemente, de novo. Mas, dessa vez, minha inocência já tinha sido mandada para a pura realidade que a pariu.

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