sábado, 26 de setembro de 2009

Enquete:


A publicidade infanto-juvenil deve ser regrada por lei?



sábado, 19 de setembro de 2009

Imortal subversão no imaginário popular.


O povo encontrava-se inerte próximo ao mar das águas ibéricas, todos atônitos e sôfregos, olhando no cais a majestosa armada do nosso rei D. Sebastião que se direcionava rumo ao norte do continente Africano para os Mouros evangelizar e a gloria... Sim a glória, o esplendor de nosso povo que doravante iria calar o fragor do misterioso ultramar. O céu alaranjou-se em sua nuance doura e rubra, tão intenso e vívido que chegava a pressagiar... O nosso fim?


Nosso rei não veio, não retornou e ainda o esperamos aqui, neste cais em ruínas, atônitos e sôfregos, olhando o incomensurável oceano de águas não pacíficas, borbulhando o vazio e efervescendo a solidão. Um violão a soar, uma mulher com canto suave e melancólico, quase depressivo, como se da vida a tivessem tirado aquilo que lhe era mais precioso, e agora ela canta, tentando clamar para que ele retorne. Acompanhando-a estão dois homens, que juntamente com a narrativa desta, dialogam de forma hipotética sobre o passado e destino de nosso o rei, o grande e majestoso D. Sebastião.



Nosso rei foi se perder nas terras do mal passar
Deitam sortes aventura quem o havia de ir buscar
O cavaleiro escolhido não se cansa de chorar
Vai andando, vai andando sem nunca desanimar

Até que encontrou um mouro num areial a velar
Por deus te peço bom mouro, me diga sem me enganar
Cavaleiro de armas brancas se o viste aqui passar

Este cavaleiro, amigo, diz-me tu, que sinal traz
Brancas eram suas armas, seu cavalo era tremedal
Na ponta de sua lança levava um branco sedal
Que ele bordou sua noiva, bordado a ponto real

Este cavaleiro amigo, morto está nesse pragal
Com as pernas dentro d’água e o corpo no areial
Sete feridas no peito, cada uma mais mortal

Por uma lhe entra o sol, pela outra o luar
Pela mais pequena delas, um gavião a voar
Mas é engano do mouro, nós vamos no aliar
O nosso rei encantou-se, nas terras do mal passar
E um dia, no seu cavalo, nosso rei há de voltar.


segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Analisando o maniqueísmo midiático.


Lei Anifumo: Tolhimento a liberdade individual e ao fundamental direito de escolha do indivíduo ou avanço da sociedade?

domingo, 13 de setembro de 2009

domingo, 6 de setembro de 2009

O sonho.

Sonhe com aquilo que você quer ser,

Porque você possui apenas uma vida

E nela só se tem uma chance

De fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.

Dificuldades para fazê-la forte.

Tristeza para fazê-la humana.

E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.

Elas sabem fazer o melhor das oportunidades

Que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.

Para aqueles que se machucam.

Para aqueles que buscam e tentam sempre.

E para aqueles que reconhecem

A importância das pessoas que passam por suas vidas.

Clarice Lispector

Parênteses

"Once a wanted to be the greatest"

"Dear Jeremy, in the last few days, I've been learning how not to trust people... and I'm glad I failed. Sometimes we depend on other people as a mirror to define us and tell us who we are. And each reflection makes me like myself a little more. Elizabeth"



From de Movie "My Blueberry Nights".

Promessa de Deusa

Em toda a trajetória da minha vida tudo que nela ocorreu foi impulsionado pela sôfrega fome da minha determinada necessidade, da minha incontrolável ambição. Mas no momento em que um homem, por mais gargantuesco que este seja, ao ter tal necessidade exaurida, ou suprida. Não há razão para que sua vida continue.


Eu era um medíocre servo de um condado, cuja minha única função no mundo era servir. Trabalhar na terra para comer, para possuir moradia, proteção e tudo isso sobre condições insalubres, sem ao menos possuir o merecido reconhecimento do meu trabalho. Essa não tinha sido minha escolha, ela foi feita e determinada desde o momento em que eu nasci, neste mundo pré-fabricado e encerrado por um fanatismo ideológico que macula, com seu pragmatismo hipócrita, sua própria fundamentação. Vivia em uma sociedade estática e estamental. E fiz o necessário para conseguir o que queria para mudar de classe, mudar minha vida, nem que para isso tivesse que renegar tais princípios religiosos em benefício as minhas aspirações, nem que para isso, o meu fim fosse fadado ao inferno. Eu nasci na Baixa Idade Média, precisamente depois da metade do século XI, período em que um turbilhão de transformação que ocorriam, deram-me a matéria-prima necessária para concretizar meu sonho.


Minha família e eu morávamos em um feudo próximo a cidade de Clermont, ocupando o manso servil dessa localidade. Certo dia, deparei-me com aquilo que tanto cobiçava- a mudança. Ele chamava-se Julien Sorel, era um nobre cavaleiro, filho único e herdeiro de um extenso e portentoso feudo da França, seu pai em leito de morte, orientou-o para que ele seguisse uma jornada em prol do seu reino. Vinha cansado e faminto, encontrou-me na plantação de trigo, enquanto os colhia. Precisava de comida e de um lugar para pernoitar. Não entendo o porquê dele não ter recorrido ao meu suserano, e sim a mim, um miserável servo. Enquanto eu o oferecia a comida que dispúnhamos, ele me contava, narrando meticulosamente sua vida e suas aventuras.


Julien falou-me que se dirigia a uma expedição militar em direção a Terra Santa, com o objetivo inicial de reconquistar os territórios sagrados das mãos dos Turcos. Mas, segundo ele, havia uma necessidade da nobreza feudal de conquistar riquezas e terras no oriente, pois esse sistema econômico ruralizado da nossa sociedade entrava em decadência. Tudo começou quando o papa Urbano II, em um veemente comício nas cercanias de Clermont, instigou a população européia a reconquistar Jerusalém, alegando a duradoura dominação de tais mulçumanos sobre esse território e a atroz repressão sofrida pelos peregrinos cristãos. E diante da sua autoridade divina como substituto de São Pedro na Igreja, o papa prometeu que quem lutasse contra os infiéis ganharia o perdão de todos os pecados e lugar garantido no paraíso. Perguntei-lhe se qualquer pessoa poderia ir. A resposta surgiu como um convite de me tornar seu fiel escudeiro. Migalhas sim, ao menos por enquanto.



Partimos na manhã seguinte rumo a Paris, de onde sairia à caravana para Jerusalém, uma marcha cristã de mais de três mil quilômetros rumo ao oriente. Julien sequer chegou a Paris, morreu no primeiro dia em que acampamos numa floresta local rumo ao nosso destino. Morto meu cavaleiro, envenenado por seu próprio escudeiro que o usurparia, que traria a glória para o seu Feudo. E esse, era apenas o primeiro perdão quando alcançasse Jerusalém. Tinha em minhas mãos o seu título de nobreza. E através da suficiente colheita de informações sobre a vida dele, nessas últimas horas, tinha nas mãos e na mente o necessário para ascender. Agora, só faltava-me o título de glória das batalhas, o burburinho das multidões, o apogeu hierárquico e a subserviência daqueles que nasceram para servir. E tudo isso eu conseguiria em Jerusalém, ao tirar de lá, aquela escória étnica que se instalara.


Chegando a Paris, procurei a cavalaria local para alojar-me, perguntando em seguida informações sobre o alistamento e a data de partida da caravana. Logo depois saí para conhecer a cidade. Pobre Paris, tomada por mendigos, servos, mulheres e crianças que haviam se declarado “cruzados” a fim de procurar a remissão de seus pecados. Desprotegida massa de manobra dos interesses dessa política religiosa, apenas mais mortes para enaltecer as futuras estatísticas. Fui aos burgos, os centros comerciais que todos comentavam e que ainda estavam em processo de consolidação. Se outrora eu já me considerava lúcido, depois de ter ido lá, foi que essa lucidez tornou-se para mim um suplício em minha vida futura.


Próximos a grandes carroções coloridos, encontrei um povo comerciante de pele escura, com tendência a um marrom intenso, peculiar das terras indianas. Estavam a tocar uma música vibrante, com um contingente diversificado de instrumentos, nos quais só conseguir identificar violinos, pandeiros e castanholas. Eram assim que eles atraiam os clientes, com essa mágica e incomum música. E todo aquele ambiente ia, gradativamente, ganhando um tom místico, o som fantasiava minha percepção convidando-me para uma inevitável dança. Senti-me possuído, enfeitiçado não só pela musicalidade, mas por aquela que apareceu em meio ao círculo que tivera se formado.


Olhos de um castanho tão ávidos e profundos, aliciadores de uma irrelutante curiosidade de mergulhá-los. Dançava com passos fortes e irregulares, gesticulando em demasia ao ponto de tornar tudo naturalmente elegante e enigmático. Tinha a pela morena, os cabelos negros e soltos, usando traje de cores berrantes e rococó, com todos aqueles brincos e pulseiras de ouro. E dançava, olhando-me fixamente. Não me recordo bem do acontecido, essa nuance entre o ilusório e o real, apenas me concebeu a lembrança de correr atrás de seus olhos e mergulhá-los. E em meio aquele mar negro ouvi vozes, ou melhor, a voz dessa sereia que se autodenominava “Irmã das Asas Negras”:

-Não se assuste nobre cavaleiro, apenas estou lendo suas mãos. Sim, sou uma cigana. Meus trajes e meus gestos não escondem. Apenas acalme-se e deixe-me contar-lhe sobre seu futuro. Tu alcançarás o auge do teu ofício. Terá riqueza, glória e poder. Amará pela primeira vez como poucos mortais conseguem amar. Será intenso, verdadeiro e único. Mas... Durará apenas sete anos, pois você a abandonará. E após disso, não terás mais necessidade de viver. Sua necessidade será esmorecida gradativamente. Quando está maturar-se, de forma irreversível, será então teu fim. Tocarás, exaurido, a morte aos sessenta e sete anos.

-Isso é ridículo, não posso morrer tão jovem e muito menos por amor.

-Então, prometa. Prometa que não se suplantará a nada nessa vida.

-Eu prometo.

-Palavras não são suficientes. Na Grécia antiga, a Deusa Hera marcava-se com um corte, a fim de personificar suas promessas.

Recebi um corte superficial, mas profundo o suficiente para formar uma cicatriz, simbolizando o cumprimento de uma promessa segundo os deuses gregos.



Tornei-me um Templário, vestido em meu manto branco, bordado com a opulente e cobiçada cruz vermelha. Tornei-me um daqueles que possuíam a ambivalência da fé dos monges e o destemor dos soldados de elite. Tornei-me um dos "Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão” (todavia éramos um colosso militar e financeiro, devendo obediência apenas ao papa, que na prática encontrava-se sempre ausente ou distante). Portanto, tornei-me possuidor de uma completa autonomia em relação aos reinos-e creio que foi essa grandiosidade a razão do nosso fim séculos depois. Retornei a Europa logo após nossa vitória em Jerusalém. Coube-me a missão de fundar em Paris um sede da nossa ordem.A implantação foi bem sucedida. E depois der ter alcançado o topo desta inamovível pirâmide social, apaixonei-me pela bela Julie.



A cigana estava certa em tudo que me dissera. E desde daquele dia vivi fadado à culminação de um futuro inexpugnável quanto a sua concretização. Por mais que eu tentasse reverter, mudar, ou traçar novos caminhos era tudo ineficaz. Foi então que compreendi que a liberdade não é a possibilidade de dizer “não” àquilo que nos acontece, ma sim a possibilidade de dizer “sim” e compreender completamente por que as coisas deverão acontecer de determinada maneira. Foi pensando assim que cometi o meu primeiro erro. Fugi de Julie, deixei-a sem lhe dar explicações. No ano seguinte entreguei-me a inquisição alegando prática de heresia.


Inicialmente, pensara que minha condenação se limitaria somente as práticas de heresias, mas estava enganado. Através da tortura inquisitorial, eles me obrigaram a confirmar atos hediondos que eu não chegara sequer a cometer. Poderia ter confirmado logo de início, afinal minha morte já estava deliberada, mas por quê?Por que eu confirmaria algo que "desapossasse" de mim aquilo que me fazia sentir vivo diante desse absoluto esmorecimento psíquico?Por que eu me tolheria dessa desumana tortura física? Eu urrava de dor, tentando astutamente esconder dos inquisidores meu sórdido sorriso de prazer: "Seu crápula! Confirme diante do Santo Tribunal sua adoração ao diabólico Baphomet!", eu dizia não, e eles dilaceravam minhas carnes; "Não adianta fingir a sua negação diante dos Sacramentos e o seu eventual desrespeito ao cuspir no calvário", eu gritava não, e eles queimavam-me com os braseiros; "Cavaleiro do demônio, entregastes, com a tua corja, a licenças sexuais uns com os outros?", eu vociferava não, e eles mutilaram um de meus membros. Em seguida eu concordei em dizer aos agentes inquisitoriais exatamente aquilo que eles queriam ouvir. Afinal, para alguém como eu, morrer em uma enclausurada é humilhante se comparado aquela macabra execução pública.


Foi no pelourinho, nos fundos da catedral de Notre-Dame, de Paris que esse espetáculo sinistro em que as pessoas que o assistem são porcos grotescos que desconhecem sua capacidade diante desse mundo de merda que os reprimem através de papéis pré-determinados para suas atuações. Vejam seus rostos, cheio de um ricto macabro, emanando um estertor ao olhar-me com suas efêmeras alegrias por verem a morte alheia como sua única diversão. Corja de hipócritas que não morre porque a Igreja abomina o suicídio, e não vivem em liberdade, porque ela também a tolhe. No picadeiro desse circo de bizarrices eu sou a atração principal, ajustado para a morte, para o último toque com o carrasco. Julie está lá, no meio dessa multidão. Meu grande e infinito amor. Abandonado sem razões por mim. O que aconteceu Julie para que terminássemos assim?Queria saber, entender o porquê de tudo isso- ambos destroçados, indo cada um para o seu lado, definhando desde a separação. Falei que era eterno e será, talvez não nessa vida, mas quem sabe meu amor, em outra.



Confesso neste instante que, em uma última tentativa, lutei contra esse inexplicável vazio que nascia dentro de mim. Lutei pensando em Julie, no nosso amor. Inicialmente deixei que aquele se estabelecesse sem cobrar-lhe razões pelo o porquê de seu nascimento e existência. Mais uma vez eu errei. Sua vivacidade era invejável, tal como sua impotente postura diante da minha. Comecei a procurar respostas, a tentar conhecê-lo, para que, por fim, pudesse aniquilar essa cratera pessoal em gradativa erosão que me dragava para si. Não havia nada, nem ao menos um indício. Eu pensei que não havia nada e pela terceira vez eu errei.



Esse prazo da concomitância entre a fragilidade da vida e da sua iminente morte chega ao fim. Despido-me dessa terra pré-fabricada e imperfectível segundo os preceitos desse fundamentalismo nefasto que vigora,ouvindo as alegações dos juiz que antecipa o gozo hipócrita dos espectadores e o êxtase venal do carrasco.Mas em discordância, ou talvez concordância, a tais exposições, ensurdeço-me com minhas últimas palavras olhando o migrar dos melros sob esse sol invernal que já não mais aquece:

-O Cavaleiro Templário Julien Sorel condenado a morte...

-Nunca.

-Por prática de heresia...

-Aprendi que, depois do horizonte, há mais horizonte...

-Sodomia...

-Aprendi que não existe limite, a não ser nosso próprio limite...

-Sacrilégio e conspiração contra a Sagrada Igreja Católica...

-Aprendi que não existem mortes, mas a vida que sai de dentro da vida...

-É julgado publicamente em nome da Justiça de Deus...

-Apesar do esforço do homem...

-Matem-no!

-Ele nunca encontrará a morte absoluta.


FIM

sábado, 5 de setembro de 2009

Ressalva daquele primeiro Sonho.



MANON-Sequência seguinte, não há mais estrelas e a babacona parou de sonhar. Ela se entope de comprimidos no banco de trás de uma Mercedes. É ela, a pequena de Terminus, a pequena caipira de que todo mundo caçoava, que perdia o cabaço nas piscinas para veranistas efeminados débeis mentais, os quais se davam ao luxo de largá-la por umas putinhas esnobes ainda por cima, a caipira que roia as unhas assistindo a Saga, que tinha inveja de tudo e todos, até das babacas da Star Academy, havia dias em que ela não tinha grana para comprar cigarro, então fumava as guimbas com cara de nojo, ela fumava suas guimbas até o filtro, é ela, a empregadinha do Trying so Hard que limpava as privadas, que estragava as mãos com água sanitária, para quem olhavam de cima, do alto de uma cadeira mesmo ela estando em pé, que era insultada quando estava muito calor, muito frio, ou muito lento, a quem deixavam por piedade alguns euros infelizes de esmola, mas ela nunca mais vai se levantar, a empregadinha, nunca mais vai ficar em pé para ninguém, e ela caga e anda para o mundo inteiro, do alto de tudo que ela ganhou, com suas montanhas de grana e todo o desejo que despertam ela vai à sua entrevista coletiva, a pequena mendiga, a pequena caipira, a pequena garçonete, na sua limusine com ar-condicionado, a qual nem precisa dirigir, enquanto sua assistente lixa suas unhas e um sujeito do tamanho de um armário fica vigiando de cara feia os erotomaníacos em potencial, ela olha para o seu rosto do tamanho de um prédio, translúcido como um ideal, de ambos os lados da estrada, e então bebe que nem um ralo, para esquecer que se enganara de sonho.


Trecho extraído do Livro "Bubble Gum" de Lolita Pille

Ma, adj, poss.: Minha

Non, adv.: Não- negação