sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Ressalva da anterior

Não corrigindo um erro, mas sim relevando uma omissão da postagem anterior: Esta foi inspirada em minha amiga Bruna, que naturalmente se inspirou em outra- e assim por diante.

"Nepotismo" cinematográfico


Anna Karina & Jean-Luc Godard


Catherine Deneuve & Roger Vadim


Brigitte Bardot & Roger Vadim


François Truffaut, Claude Jade & Jean-Pierre Léaud


Clotilde Hesme & Christophe Honoré


Louis Garrel & Philippe Garrel




Ao banheiro, tênue esperança.

Mesmo depois de tudo, ainda me sinto como ela: Sorrindo confiança,determinação e estilo.



Usei o novo "CLOSE-UP white now"e não tive dentes instantaneamente brancos como preconiza a propaganda.Não é que eu tenha sido mais um que foi ludibriado pela máfia arrivista da publicidade, "não,nunca...jamais". Constata-se que desde o histórico instante que ela passou a criar passíveis soluções imediatistas para questões corriqueiras, nasceram com essas o ressalvante "asterisco". Observando com minúcia esse inconveniente filtro dos sonhos modernos, descobri que a "sílica branqueadora", ingrediente que diferencia o produto dos demais de sua linha, tem efeito óptico temporário e, ainda por cima, mancha roupas! Portanto caro leitor, se querem ter dentes brancos "now", parem de tomar café e fumar e procurem um dentista para um futuro clareamento.



Doce pulsar coronário do medievo

Ele não queria um caso a parte.
Ele não queria isso, não mais.
Ele, no entanto, faria,caso preciso.
Ele sabia dessa perda de tempo- necessária?
Ele deduzia também: "será inusitado".
Ele estava certo, e foi.

Ele olhava,fitava,analisava...
Ele se extasiava, mas não se saciava.
Ele,todavia, não semiotizava- era desnecessário.
Ele se perdia num vórtice de ideias convergentes.
Ele se foi.Tudo.Doce e disrítimico.

Eunice Kathleen Waymon



"Jazz é uma palavra branca para uma música negra." Com essa frase Nina Simone renegava o estereótipo de "cantora de jazz" dado às divas negras das décadas de 50 e 60 e ainda dizia muito sobre sua personalidade e seu estilo. A cantora morreu no dia 21 de Abril, aos 70 anos, em Paris.

Nina era especial na miríade de divas do jazz nos anos 50 e 60 por vários motivos. Um deles era a sua versatilidade.

Ela passeava com a mesma competência pelo jazz, soul, blues, gospel, canções tradicionais e pop. A sua interpretação, nem tanto pela técnica, mas pela emoção, poderia ser classificada como soul, dada a sua entrega às canções que interpretava.

De alguma forma, ela foi chamada "a maior pregadora do soul". Mas Nina também se distinguiu, durante toda a carreira, por ser uma das cantoras a encarnar com mais fervor a luta pelos direitos civis nos EUA.

Quando Martin Luther King morreu, ela cantou: "What will happen, now that the King of love is dead?" (O que vai acontecer, agora que o rei do amor está morto?).

O seu activismo político era consonante com a mulher que, vinha de uma família de oito filhos e queria sair da pobreza por meio da música. Na verdade ela começou a cantar para se sustentar, quase por acidente.

As suas melhores gravações foram feitas nos anos 60. Mesmo com material disperso, que ia das baladas francesas a canções políticas enfurecidas, o vocal temperamental - mas ainda assim elegante - revelava uma cantora independente e repleta de sentimentos.

A cantora deixa, entre lançamentos de estúdio e gravações ao vivo, quase 70 álbuns de uma carreira que durou 46 anos e que deixou marcas na música com um vocal intenso e passional, que poderia ser agressivo, triste, sofisticado e melancólico. A força da personalidade de Nina e mesmo o seu ecletismo mantiveram-na mais distante do público que as suas contemporâneas, mas o seu talento é comparado ao de Billie Holliday (considerada a maior intérprete de jazz de todos os tempos pelos críticos).

A sua morte encerra o ciclo das grandes cantoras negras do género. Hoje, o espaço é de nova geração de cantoras brancas que possuem técnica e elegância impecáveis, mas, inevitavelmente, menos potência vocal nas interpretações. Diana Krall, Jane Monheit e Norah Jones juntam-se a Dee Dee Bridgewater como referências do jazz contemporâneo, que nunca vai ser como os anos dourados de 50 e 60.

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

AVISO:

Caro leitor, não procurarei jamais, sobre hipótese alguma, retificar suas inquietações e objeções acerca de como venho navegando nesse imensurável oceano virtual.Todavia o quê interessa neste exato momento não é o compĺexo "para quê", e sim o notório "por que".Deveria ter deixado um recado simples, anunciando minha saída-sim, porque esta é a ação imprescindível para aqueles que decidem sair de férias.Se o tivesse, no entanto, muitos pensariam que seria uma viagem sem volta-limitados,errôneos e banais.Por isso não o anunciei antes, e o faço agora de forma contraditória: "Voltei".

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

I'm a twentysomething



After years of expensive education
A car full of books and anticipation
I'm an expert on Shakespeare and that's a hell of a lot
But the world don't need scholars as much as I thought
Maybe I'll go travelling for a year
Finding myself, or start a career
Could work the poor, though I'm hungry for fame
We all seem so different but we're just the same
Maybe I'll go to the gym, so I don't get fat
Aren't things more easy, with a tight six pack
Who knows the answers, who do you trust
I can't even seperate love from lust
Maybe I'll move back home and pay off my loans
Working nine to five, answering phones
But don't make me live for Friday nights
Drinking eight pints and getting in fights
I don't want to get up, just let me lie in
Leave me alone, I'm a twentysomething
Maybe I'll just fall in love
That could solve it all
Philosophers say that that's enough
There surely must be more
Love ain't the answer, nor is work
The truth elludes me so much it hurts
But I'm still having fun and I guess that's the key
I'm a twentysomething and I'll keep being me (?)

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O pescador de flagras.



Foto de Henri Cartier-Bresson.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Pensamento particular, mas notório



Demora um certo tempo ate que se consiga achar o lugar ideal, com as pessoas ideais e os amigos que sempre serão amigos.Quando isso acontece, tento cativar esses imprescindíveis seres.Embora as circunstâncias em que tudo tenha ocorrido, muitas vezes, não tenha sido favorável para a efetivação do meu conceito de amizade, quero que saibam que eu ainda tento fazê-lo. Muitas vezes silenciosamente- sim, porque não preciso gritar com louvor sobre outrem para demonstrar algo, afinal, palavras são mudas e nulas quando se trata de ações-, desejando o melhor, orientando como posso e em outras me divertindo com a infantilidade e dissimulação de cada dia. Sei que às vezes sou ríspido, mas e só mais uma faceta diante da sociedade, sei que às vezes desapareço, mas e para resolver meus problemas e não ter que transpassá-los a vocês- embora muitas vezes tenha tentado, ao escutar o burburinho de suas vozes, acalantar essa turbulência sôfrega dos meus pensamentos.

Vou para minha Pasárgada, assim como um dia vocês iram para suas, viver o complexo, ser livre meio ao claustrofóbico, sorrir incrédulo. O reencontro e inevitável, isso os garanto, será então o momento de discutir nossas vivencias e fazer aquilo que sabemos de melhor quando juntos: Ser os amigos que sempre serão amigos, mesmo se o adeus e constante- ao menos da minha parte meus queridos.



Luxúria é ética do perverso vivo?


- Vovô, quando eu crescer vou derrubar a vegetação litorânea dessa paradisíaca ilha e construir um Resort faraônico. Assim eu vou lucrar com o turismo e ser bem sucedido na vida.

-Isso e muito bom meu neto. Mas se você não fizer do jeito certo, quem vai culpar quando do mar vier o mundo e te tirar aquilo que você tirou dele?

- ...




Just dance.Just Dance.Dance.Dance.Dance.


I can't remember but it's alright a-alright

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Calma,mar,ia...


Palavras Não Falam


Eu não escrevo pra ninguém e nem pra fazer música
E nem pra preencher o branco dessa página linda
Eu me entendo escrevendo e vejo tudo sem vaidade
Só tem eu e esse branco e ele me mostra o que eu não
sei

E me faz ver o que não tem palavra
Por mais que eu tente, são só palavras
Por mais que eu me mate, são só palavras

Eu não escrevo pra ninguém e nem pra fazer música
E nem pra preencher o branco dessa página linda
Eu me entendo escrevendo e vejo tudo sem vaidade
Só tem eu e esse branco e ele me mostra o que eu não
sei

E me faz ver o que não tem palavra
Por mais que eu tente, são só palavras
Por mais que eu me mate, são só palavras

Eu me entendo escrevendo e vejo tudo sem vaidade
Só tem eu e esse branco e ele me mostra o que eu não
sei

E me faz ver o que não tem palavra
Por mais que eu tente, são só palavras
Por mais que eu me mate, são só palavras


...


sábado, 26 de setembro de 2009

Enquete:


A publicidade infanto-juvenil deve ser regrada por lei?



sábado, 19 de setembro de 2009

Imortal subversão no imaginário popular.


O povo encontrava-se inerte próximo ao mar das águas ibéricas, todos atônitos e sôfregos, olhando no cais a majestosa armada do nosso rei D. Sebastião que se direcionava rumo ao norte do continente Africano para os Mouros evangelizar e a gloria... Sim a glória, o esplendor de nosso povo que doravante iria calar o fragor do misterioso ultramar. O céu alaranjou-se em sua nuance doura e rubra, tão intenso e vívido que chegava a pressagiar... O nosso fim?


Nosso rei não veio, não retornou e ainda o esperamos aqui, neste cais em ruínas, atônitos e sôfregos, olhando o incomensurável oceano de águas não pacíficas, borbulhando o vazio e efervescendo a solidão. Um violão a soar, uma mulher com canto suave e melancólico, quase depressivo, como se da vida a tivessem tirado aquilo que lhe era mais precioso, e agora ela canta, tentando clamar para que ele retorne. Acompanhando-a estão dois homens, que juntamente com a narrativa desta, dialogam de forma hipotética sobre o passado e destino de nosso o rei, o grande e majestoso D. Sebastião.



Nosso rei foi se perder nas terras do mal passar
Deitam sortes aventura quem o havia de ir buscar
O cavaleiro escolhido não se cansa de chorar
Vai andando, vai andando sem nunca desanimar

Até que encontrou um mouro num areial a velar
Por deus te peço bom mouro, me diga sem me enganar
Cavaleiro de armas brancas se o viste aqui passar

Este cavaleiro, amigo, diz-me tu, que sinal traz
Brancas eram suas armas, seu cavalo era tremedal
Na ponta de sua lança levava um branco sedal
Que ele bordou sua noiva, bordado a ponto real

Este cavaleiro amigo, morto está nesse pragal
Com as pernas dentro d’água e o corpo no areial
Sete feridas no peito, cada uma mais mortal

Por uma lhe entra o sol, pela outra o luar
Pela mais pequena delas, um gavião a voar
Mas é engano do mouro, nós vamos no aliar
O nosso rei encantou-se, nas terras do mal passar
E um dia, no seu cavalo, nosso rei há de voltar.


segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Analisando o maniqueísmo midiático.


Lei Anifumo: Tolhimento a liberdade individual e ao fundamental direito de escolha do indivíduo ou avanço da sociedade?

domingo, 13 de setembro de 2009

domingo, 6 de setembro de 2009

O sonho.

Sonhe com aquilo que você quer ser,

Porque você possui apenas uma vida

E nela só se tem uma chance

De fazer aquilo que quer.

Tenha felicidade bastante para fazê-la doce.

Dificuldades para fazê-la forte.

Tristeza para fazê-la humana.

E esperança suficiente para fazê-la feliz.

As pessoas mais felizes não têm as melhores coisas.

Elas sabem fazer o melhor das oportunidades

Que aparecem em seus caminhos.

A felicidade aparece para aqueles que choram.

Para aqueles que se machucam.

Para aqueles que buscam e tentam sempre.

E para aqueles que reconhecem

A importância das pessoas que passam por suas vidas.

Clarice Lispector

Parênteses

"Once a wanted to be the greatest"

"Dear Jeremy, in the last few days, I've been learning how not to trust people... and I'm glad I failed. Sometimes we depend on other people as a mirror to define us and tell us who we are. And each reflection makes me like myself a little more. Elizabeth"



From de Movie "My Blueberry Nights".

Promessa de Deusa

Em toda a trajetória da minha vida tudo que nela ocorreu foi impulsionado pela sôfrega fome da minha determinada necessidade, da minha incontrolável ambição. Mas no momento em que um homem, por mais gargantuesco que este seja, ao ter tal necessidade exaurida, ou suprida. Não há razão para que sua vida continue.


Eu era um medíocre servo de um condado, cuja minha única função no mundo era servir. Trabalhar na terra para comer, para possuir moradia, proteção e tudo isso sobre condições insalubres, sem ao menos possuir o merecido reconhecimento do meu trabalho. Essa não tinha sido minha escolha, ela foi feita e determinada desde o momento em que eu nasci, neste mundo pré-fabricado e encerrado por um fanatismo ideológico que macula, com seu pragmatismo hipócrita, sua própria fundamentação. Vivia em uma sociedade estática e estamental. E fiz o necessário para conseguir o que queria para mudar de classe, mudar minha vida, nem que para isso tivesse que renegar tais princípios religiosos em benefício as minhas aspirações, nem que para isso, o meu fim fosse fadado ao inferno. Eu nasci na Baixa Idade Média, precisamente depois da metade do século XI, período em que um turbilhão de transformação que ocorriam, deram-me a matéria-prima necessária para concretizar meu sonho.


Minha família e eu morávamos em um feudo próximo a cidade de Clermont, ocupando o manso servil dessa localidade. Certo dia, deparei-me com aquilo que tanto cobiçava- a mudança. Ele chamava-se Julien Sorel, era um nobre cavaleiro, filho único e herdeiro de um extenso e portentoso feudo da França, seu pai em leito de morte, orientou-o para que ele seguisse uma jornada em prol do seu reino. Vinha cansado e faminto, encontrou-me na plantação de trigo, enquanto os colhia. Precisava de comida e de um lugar para pernoitar. Não entendo o porquê dele não ter recorrido ao meu suserano, e sim a mim, um miserável servo. Enquanto eu o oferecia a comida que dispúnhamos, ele me contava, narrando meticulosamente sua vida e suas aventuras.


Julien falou-me que se dirigia a uma expedição militar em direção a Terra Santa, com o objetivo inicial de reconquistar os territórios sagrados das mãos dos Turcos. Mas, segundo ele, havia uma necessidade da nobreza feudal de conquistar riquezas e terras no oriente, pois esse sistema econômico ruralizado da nossa sociedade entrava em decadência. Tudo começou quando o papa Urbano II, em um veemente comício nas cercanias de Clermont, instigou a população européia a reconquistar Jerusalém, alegando a duradoura dominação de tais mulçumanos sobre esse território e a atroz repressão sofrida pelos peregrinos cristãos. E diante da sua autoridade divina como substituto de São Pedro na Igreja, o papa prometeu que quem lutasse contra os infiéis ganharia o perdão de todos os pecados e lugar garantido no paraíso. Perguntei-lhe se qualquer pessoa poderia ir. A resposta surgiu como um convite de me tornar seu fiel escudeiro. Migalhas sim, ao menos por enquanto.



Partimos na manhã seguinte rumo a Paris, de onde sairia à caravana para Jerusalém, uma marcha cristã de mais de três mil quilômetros rumo ao oriente. Julien sequer chegou a Paris, morreu no primeiro dia em que acampamos numa floresta local rumo ao nosso destino. Morto meu cavaleiro, envenenado por seu próprio escudeiro que o usurparia, que traria a glória para o seu Feudo. E esse, era apenas o primeiro perdão quando alcançasse Jerusalém. Tinha em minhas mãos o seu título de nobreza. E através da suficiente colheita de informações sobre a vida dele, nessas últimas horas, tinha nas mãos e na mente o necessário para ascender. Agora, só faltava-me o título de glória das batalhas, o burburinho das multidões, o apogeu hierárquico e a subserviência daqueles que nasceram para servir. E tudo isso eu conseguiria em Jerusalém, ao tirar de lá, aquela escória étnica que se instalara.


Chegando a Paris, procurei a cavalaria local para alojar-me, perguntando em seguida informações sobre o alistamento e a data de partida da caravana. Logo depois saí para conhecer a cidade. Pobre Paris, tomada por mendigos, servos, mulheres e crianças que haviam se declarado “cruzados” a fim de procurar a remissão de seus pecados. Desprotegida massa de manobra dos interesses dessa política religiosa, apenas mais mortes para enaltecer as futuras estatísticas. Fui aos burgos, os centros comerciais que todos comentavam e que ainda estavam em processo de consolidação. Se outrora eu já me considerava lúcido, depois de ter ido lá, foi que essa lucidez tornou-se para mim um suplício em minha vida futura.


Próximos a grandes carroções coloridos, encontrei um povo comerciante de pele escura, com tendência a um marrom intenso, peculiar das terras indianas. Estavam a tocar uma música vibrante, com um contingente diversificado de instrumentos, nos quais só conseguir identificar violinos, pandeiros e castanholas. Eram assim que eles atraiam os clientes, com essa mágica e incomum música. E todo aquele ambiente ia, gradativamente, ganhando um tom místico, o som fantasiava minha percepção convidando-me para uma inevitável dança. Senti-me possuído, enfeitiçado não só pela musicalidade, mas por aquela que apareceu em meio ao círculo que tivera se formado.


Olhos de um castanho tão ávidos e profundos, aliciadores de uma irrelutante curiosidade de mergulhá-los. Dançava com passos fortes e irregulares, gesticulando em demasia ao ponto de tornar tudo naturalmente elegante e enigmático. Tinha a pela morena, os cabelos negros e soltos, usando traje de cores berrantes e rococó, com todos aqueles brincos e pulseiras de ouro. E dançava, olhando-me fixamente. Não me recordo bem do acontecido, essa nuance entre o ilusório e o real, apenas me concebeu a lembrança de correr atrás de seus olhos e mergulhá-los. E em meio aquele mar negro ouvi vozes, ou melhor, a voz dessa sereia que se autodenominava “Irmã das Asas Negras”:

-Não se assuste nobre cavaleiro, apenas estou lendo suas mãos. Sim, sou uma cigana. Meus trajes e meus gestos não escondem. Apenas acalme-se e deixe-me contar-lhe sobre seu futuro. Tu alcançarás o auge do teu ofício. Terá riqueza, glória e poder. Amará pela primeira vez como poucos mortais conseguem amar. Será intenso, verdadeiro e único. Mas... Durará apenas sete anos, pois você a abandonará. E após disso, não terás mais necessidade de viver. Sua necessidade será esmorecida gradativamente. Quando está maturar-se, de forma irreversível, será então teu fim. Tocarás, exaurido, a morte aos sessenta e sete anos.

-Isso é ridículo, não posso morrer tão jovem e muito menos por amor.

-Então, prometa. Prometa que não se suplantará a nada nessa vida.

-Eu prometo.

-Palavras não são suficientes. Na Grécia antiga, a Deusa Hera marcava-se com um corte, a fim de personificar suas promessas.

Recebi um corte superficial, mas profundo o suficiente para formar uma cicatriz, simbolizando o cumprimento de uma promessa segundo os deuses gregos.



Tornei-me um Templário, vestido em meu manto branco, bordado com a opulente e cobiçada cruz vermelha. Tornei-me um daqueles que possuíam a ambivalência da fé dos monges e o destemor dos soldados de elite. Tornei-me um dos "Pobres Cavaleiros de Cristo e do Templo de Salomão” (todavia éramos um colosso militar e financeiro, devendo obediência apenas ao papa, que na prática encontrava-se sempre ausente ou distante). Portanto, tornei-me possuidor de uma completa autonomia em relação aos reinos-e creio que foi essa grandiosidade a razão do nosso fim séculos depois. Retornei a Europa logo após nossa vitória em Jerusalém. Coube-me a missão de fundar em Paris um sede da nossa ordem.A implantação foi bem sucedida. E depois der ter alcançado o topo desta inamovível pirâmide social, apaixonei-me pela bela Julie.



A cigana estava certa em tudo que me dissera. E desde daquele dia vivi fadado à culminação de um futuro inexpugnável quanto a sua concretização. Por mais que eu tentasse reverter, mudar, ou traçar novos caminhos era tudo ineficaz. Foi então que compreendi que a liberdade não é a possibilidade de dizer “não” àquilo que nos acontece, ma sim a possibilidade de dizer “sim” e compreender completamente por que as coisas deverão acontecer de determinada maneira. Foi pensando assim que cometi o meu primeiro erro. Fugi de Julie, deixei-a sem lhe dar explicações. No ano seguinte entreguei-me a inquisição alegando prática de heresia.


Inicialmente, pensara que minha condenação se limitaria somente as práticas de heresias, mas estava enganado. Através da tortura inquisitorial, eles me obrigaram a confirmar atos hediondos que eu não chegara sequer a cometer. Poderia ter confirmado logo de início, afinal minha morte já estava deliberada, mas por quê?Por que eu confirmaria algo que "desapossasse" de mim aquilo que me fazia sentir vivo diante desse absoluto esmorecimento psíquico?Por que eu me tolheria dessa desumana tortura física? Eu urrava de dor, tentando astutamente esconder dos inquisidores meu sórdido sorriso de prazer: "Seu crápula! Confirme diante do Santo Tribunal sua adoração ao diabólico Baphomet!", eu dizia não, e eles dilaceravam minhas carnes; "Não adianta fingir a sua negação diante dos Sacramentos e o seu eventual desrespeito ao cuspir no calvário", eu gritava não, e eles queimavam-me com os braseiros; "Cavaleiro do demônio, entregastes, com a tua corja, a licenças sexuais uns com os outros?", eu vociferava não, e eles mutilaram um de meus membros. Em seguida eu concordei em dizer aos agentes inquisitoriais exatamente aquilo que eles queriam ouvir. Afinal, para alguém como eu, morrer em uma enclausurada é humilhante se comparado aquela macabra execução pública.


Foi no pelourinho, nos fundos da catedral de Notre-Dame, de Paris que esse espetáculo sinistro em que as pessoas que o assistem são porcos grotescos que desconhecem sua capacidade diante desse mundo de merda que os reprimem através de papéis pré-determinados para suas atuações. Vejam seus rostos, cheio de um ricto macabro, emanando um estertor ao olhar-me com suas efêmeras alegrias por verem a morte alheia como sua única diversão. Corja de hipócritas que não morre porque a Igreja abomina o suicídio, e não vivem em liberdade, porque ela também a tolhe. No picadeiro desse circo de bizarrices eu sou a atração principal, ajustado para a morte, para o último toque com o carrasco. Julie está lá, no meio dessa multidão. Meu grande e infinito amor. Abandonado sem razões por mim. O que aconteceu Julie para que terminássemos assim?Queria saber, entender o porquê de tudo isso- ambos destroçados, indo cada um para o seu lado, definhando desde a separação. Falei que era eterno e será, talvez não nessa vida, mas quem sabe meu amor, em outra.



Confesso neste instante que, em uma última tentativa, lutei contra esse inexplicável vazio que nascia dentro de mim. Lutei pensando em Julie, no nosso amor. Inicialmente deixei que aquele se estabelecesse sem cobrar-lhe razões pelo o porquê de seu nascimento e existência. Mais uma vez eu errei. Sua vivacidade era invejável, tal como sua impotente postura diante da minha. Comecei a procurar respostas, a tentar conhecê-lo, para que, por fim, pudesse aniquilar essa cratera pessoal em gradativa erosão que me dragava para si. Não havia nada, nem ao menos um indício. Eu pensei que não havia nada e pela terceira vez eu errei.



Esse prazo da concomitância entre a fragilidade da vida e da sua iminente morte chega ao fim. Despido-me dessa terra pré-fabricada e imperfectível segundo os preceitos desse fundamentalismo nefasto que vigora,ouvindo as alegações dos juiz que antecipa o gozo hipócrita dos espectadores e o êxtase venal do carrasco.Mas em discordância, ou talvez concordância, a tais exposições, ensurdeço-me com minhas últimas palavras olhando o migrar dos melros sob esse sol invernal que já não mais aquece:

-O Cavaleiro Templário Julien Sorel condenado a morte...

-Nunca.

-Por prática de heresia...

-Aprendi que, depois do horizonte, há mais horizonte...

-Sodomia...

-Aprendi que não existe limite, a não ser nosso próprio limite...

-Sacrilégio e conspiração contra a Sagrada Igreja Católica...

-Aprendi que não existem mortes, mas a vida que sai de dentro da vida...

-É julgado publicamente em nome da Justiça de Deus...

-Apesar do esforço do homem...

-Matem-no!

-Ele nunca encontrará a morte absoluta.


FIM

sábado, 5 de setembro de 2009

Ressalva daquele primeiro Sonho.



MANON-Sequência seguinte, não há mais estrelas e a babacona parou de sonhar. Ela se entope de comprimidos no banco de trás de uma Mercedes. É ela, a pequena de Terminus, a pequena caipira de que todo mundo caçoava, que perdia o cabaço nas piscinas para veranistas efeminados débeis mentais, os quais se davam ao luxo de largá-la por umas putinhas esnobes ainda por cima, a caipira que roia as unhas assistindo a Saga, que tinha inveja de tudo e todos, até das babacas da Star Academy, havia dias em que ela não tinha grana para comprar cigarro, então fumava as guimbas com cara de nojo, ela fumava suas guimbas até o filtro, é ela, a empregadinha do Trying so Hard que limpava as privadas, que estragava as mãos com água sanitária, para quem olhavam de cima, do alto de uma cadeira mesmo ela estando em pé, que era insultada quando estava muito calor, muito frio, ou muito lento, a quem deixavam por piedade alguns euros infelizes de esmola, mas ela nunca mais vai se levantar, a empregadinha, nunca mais vai ficar em pé para ninguém, e ela caga e anda para o mundo inteiro, do alto de tudo que ela ganhou, com suas montanhas de grana e todo o desejo que despertam ela vai à sua entrevista coletiva, a pequena mendiga, a pequena caipira, a pequena garçonete, na sua limusine com ar-condicionado, a qual nem precisa dirigir, enquanto sua assistente lixa suas unhas e um sujeito do tamanho de um armário fica vigiando de cara feia os erotomaníacos em potencial, ela olha para o seu rosto do tamanho de um prédio, translúcido como um ideal, de ambos os lados da estrada, e então bebe que nem um ralo, para esquecer que se enganara de sonho.


Trecho extraído do Livro "Bubble Gum" de Lolita Pille

Ma, adj, poss.: Minha

Non, adv.: Não- negação

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Coceira beata do samba de caixinha


...

Vai pegar feito bocejo
ou que só sentido vê
instigado num lampejo
despertado pelo beijo
que o baile parou pra ver
Dá marchinha fez silêncio
num silêncio escutei
uma disritmia em meu coração
que se instalou de vez

...

Azul-Claro


Que profundo olhar azul-claro tão intenso e atraente. Que profundo olhar azul-claro. Tão viril e enigmático que nos assusta, mas nos delicia a decifrá-lo, a mergulhar e ser perder. Perder-se nesse ensejado olhar azul-claro. Se comparados, são banais as águas das Antilhas, a cor desse olhar é vívido e único. Tamanha singularidade é vista com a pueril superfície da infância que ele ainda possui. Tão lindo o meu olhar azul-claro. Ele vai caminhando pelo tempo, aprendendo sobre a vida da maneira que pode, seja com o inebriar do álcool, da neblina do seu cigarro, dos espasmos metanfetamínicos, ou até da ardência da coca. Ele vai caminhando com o que sabe, com o que tem. Um amor não basta. Mas azul-claro vai caminhando com o que vem. Até que um dia ele para, o meu olhar azul claro, para no silêncio. No início agonia, mas no findar se revela. Surpreende com lágrimas esse olhar que já não é mais de menina, é de um azul-claro maturado para enfrentar essa cruel vida.



Effy.

domingo, 23 de agosto de 2009

domingo, 16 de agosto de 2009

Uma carta.

Leitura realizada por M.,em sua carta autoral, para Luci Grey em um domingo de agosto.Trecho extraído do conto "O Monstro", contido no livro "Ensaio sobre a Revolução".



Lyon, 09 de Agosto de 2009


Ma Chérie,



O quê eu sinto, de forma simultânea, e penso de mim mesmo, resume-se em duas palavras: Nojo e vergonha. O casamento ideal de uma evidência gritante que foi cegada pela inocência à espera de sua ultrajante maturação. Não sinto vontade de chorar, ainda bem, pois as lágrimas aliviariam o que o tempo já tratou de pacificar.

A vergonha consiste em ter me tornado subserviente a um ser que representa as intemporais virtudes do homem: Vileza, manipulação e egoísmo. E tudo isso me faz sentir nojo da minha fraqueza e do homem. A princípio usei da compreensão, mas ela foi emotiva e errônea, pois acreditou em palavras belas e ensejadas. Eu sempre ouvia um “amo-te”, mas antes nunca havia parado para me perguntar “onde? Como?”. Caso tivesse feito, imagino que a resposta seria “Esse amor de que você fala. Eu não o sinto, não o toco, tampouco o vejo. Apenas ouço essas palavras belas, mas fáceis. E o que devo fazer com elas? Colocá-las em um ostensório e rezar para que um milagre se concretize?”. Foi exatamente isso que eu fiz. Mas até para um cético fundamentalista que reza de olhos vendados, iludido na penumbra da consciência alheia, esse misticismo torna-se, com o tiquetaquear do tempo, enfadonho e começa a cheirar a decadência.

Mesmo assim, a inocência não tinha sido totalmente metamorfoseada, esse molestamento emotivo tinha sido apenas o prelúdio. Tal pureza precisava chafurdar-se, emporcalhar sua probidade de modo irreversível. E ela o fez. Foi por isso que mesmo desvendado o cético continuou a rezar, mas dessa vez de olhos fechados e coração exangue, ensandecido para que ainda houvesse entre ele e sua causa uma migalha desse amor, mesmo que sujo, que pobre. Quando não houve mais sangue e o desespero se materializou, os olhos foram abertos e a letargia do cético quebrada com um impetuoso vômito sobre aquele altar adornado de sentimentos artificiais.

Uma vez um psicopata me disse que o homem é capaz de cometer o mais hediondo crime e ser indultado se possuísse a desculpa conveniente para tanto. E ele estava certo. Os nazistas, a exemplo, realizaram o holocausto com base na superioridade da raça ariana sobre as demais. E você ma chérie? Realizou seus atos baseando-se em que? Foi ao tentar compreender o incompreensível que eu esgotei o meu futuro em prol de um presente retroativo. Ma chérie, você ao menos tem essa desculpa? Esse álibi irrefutável para ações nefastas?

Depois usei do julgamento, que, diferentemente do imaginário popular, não foi indiferente nem gélido, e sim coerentemente imparcial. Caso não tenha ainda esboçado suas desculpas, atrelo-a ao meu veredicto: Um estratagema sórdido de um ser que foi vítima do amor e, por isso, escravizou outrem com base em sua vendeta arrivista, cujos beneficentes são seus inconscientes preceitos egoístas.

Você, má chérie, poderia ter me libertado desde da nossa última conversa, sentados cara à cara, no shopping, naquela mesma mesa onde tudo começou.Onde foi-lhe entregue o meu inventário. Mas não, eu era tão importante para você com minha capacidade racional de esmorecer suas frustrações e tornar-te sublime quando o espelho da tua consciência refletia uma imagem grotesca e repugnante. Você me cativou com seu ilusionismo intelectual e sua linguagem apelativa. Finalizando tudo ao enraizar em mim a semente da esperança inalcançável com essas improferíveis palavras “Agora, eu não quero ficar com você. Eu quero ficar com outra pessoa. Mas quando eu quiser ficar com você... Eu fico, porque eu sou... um ESPÍRITO LIVRE”.

Intitulo-me um sonhador ma chérie. Acalmo-lhe dizendo que tal experiência não mordeu meus sonhos ao ponto de troná-los mórbidos ou rancorosos. É por isso que vou caminhar e não fugir. E mesmo que o fizesse, estaria fugindo para outro lugar melhor que este. E isso. Isso se chama “migrar”. Finalmente vou migrar para onde migram os pássaros.

Ps.: Sei que essa carta pode gerar uma necessidade de resposta e, por conseguinte, de uma conversa. Mas peço-lhe, por favor, que não tente, pois a verdade sempre será salientada no modo como somos, na pessoa que si é. Sem mais ressalvas.

M.

Décima primeira Parte

Início anunciativo de tempos vindouros.



A porta rangia enquanto o velho careca de poucos fios prateados adentrava em sua casa. Trancou-a com a mesma placidez da abertura, ouvindo mais uma vez o ruído que para ele já era rotineiro.
-Já são quase doze horas!- disse em tom de preocupação. - Tenho que preparar o almoço. Acho que passei tempo demais naquela praça, embora me tenha sido muito produtivo.

Observava com riso a sua recente pintura, seus olhos reluziam um ar de satisfação, como se dissesse a si mesmo “Este quadro arrepiaria, com inveja, os cabelos da barba do velho Monet”. Era dessa lúdica pretensão que gargalhava consigo mesmo ao colocar o quadro para secar:
-Arrepiar de inveja a barba do velho Monet?!Como pode isso?

Depois do almoço sentou-se confortavelmente no sofá, observando a limitada paisagem que sua janela o proporcionava. Tinha o olhar persistente, mas vago. Havia se dispersado em suas dissipações antigas. A preguiça do permanecer na retrospectiva o lembrou que tinha obrigações a fazer, olhou de soslaio para sua estante de livros.
-Esqueci que hoje era dia de te arrumar.

Levantou-se com a mesma placidez de sempre, caminhando vagarosamente para sua única obrigação diária. Era uma estante tão antiga, assim como os livros que ela abrigava, um acervo fenomenal de um eterno amante da literatura. Retirava-os com paciência, muitas vezes abrindo-os e lendo aquilo que a memória o guiava. Encontrou um antigo livro de capa amarela com um pássaro estampado na capa. Folheou algumas páginas, como um errante que procura em uma bússola a direção exata para o destino que ele desconhece. Parou em uma determinada página, enquanto seus olhos planavam no papel, mergulhando sua mente nas palavras que ali havia:

"Consta que o mundo tem muitos anos. Porém raramente ele dura mais de um século. Somos nós que envelhecemos... A maior parte do tempo o mundo desperdiça dormindo... Apenas de vez em quando, ele esfrega os olhos e desperta para a consciência de si mesmo".

"A vida precisa de esquecimento. A saúde do homem depende de sua capacidade de esquecer. De cada ação e de cada momento de felicidade também faz parte do esquecimento. O conhecimento nunca deve se sobrepor a vida".

Fechando o livro, colocou-o junto à pilha dos demais que estavam sendo retirados da estante. O próximo que a mão do velho caçou, em ordem de sua mente, foi um atual roteiro cuja página de destino ele conhecia. Abriu-o com certa ansiedade, dessa vez leu em voz alta para si:


"Porque mesmo que você não saiba para onde vai, ajuda saber que não está sozinho. Ninguém tem todas as respostas. Às vezes, o melhor que podemos fazer é pedir desculpas. E deixar o passado no passado. Outras vezes precisamos olhar para o futuro, e saber que mesmo quando achamos que vimos de tudo, a vida ainda pode nos surpreender. E ainda podemos surpreender a nós mesmos".

Viu cair do roteiro um pedaço de papel. Abaixou-se para pegá-lo, mas não chegou a fazê-lo, pois uma dor pontiaguda que surgira na coluna o tolheu. Com o corpo em agonia, permaneceu parado a fitar o que aquele pedaço de papel o reservava:


A Liberdade

Que espaço o passado reserva a minha liberdade hoje?

A liberdade é uma eterna conquista.


Foram essas máximas que o levaram a perceber que toda essa higiene não passou de um lapso pessoal. Não era dia de limpar a estante. Ele já tivera feito isso ontem. Aos poucos foi recolocando tudo em seu devido lugar, inclusive sua vida. O relógio marcava quase dez horas quando ele se deitou. Dessas vez com uma nova perspectiva,dessa vez com novos sonhos.

O galo não chegou nem a cantar e o velho careca de poucos fios prateados já estava despertado. Tirou do seu antigo encarte o seu futuro disco-Imitação da Vida; Ligou sua vitrola; Caminhou até sua horta orgânica; Colheu algumas folhas de menta; Tomou chá verde com mente; Vestiu sua roupa de fitness e calçou seu tênis; Retirou seu ipod do carreador e o pôs nos ouvidos; Abriu a barulhenta porta com um sorriso e saiu. Saiu para caminhar.




FIM