domingo, 16 de agosto de 2009

Décima Parte

Minha cara Marcella e eu.


Em uma manhã de raios saudáveis, amontoavam-se várias crianças em um parquinho colorido. Era quase uma balbúrdia de pequeninos seres correndo e divertindo-se em meio aqueles brinquedos. Seus pais quando não os acompanhavam nas travessuras, apenas os observavam de longe. Sentado em um dos bancos, encontrava-se um garotinho cabisbaixo e de pernas juntas, olhando atenciosamente a verde relva primaveril. Observava uma fila contínua de formiguinhas, todas unidas, todas em grupo. Um doloroso pensamento o fez levantar a cabeça, o fez perceber que todos naquele ambiente estavam acompanhados, inclusive o harmonioso canto daquelas crianças, inclusive sua solidão que tinha a ele, mas ele nunca a apalpava. Ela nunca o afagava. Seguindo essa linha vazia o garotinho se dispersa em seus pensamentos.
-Ei!Menino!!!
Essa voz soou em seu pensamento como que um instantâneo resgate para um recém naufrágio.
- Isso é comigo?
-Sim, é como você mesmo! Quer brincar?!
- Briiiinncar?
- Quer ou não?
- Queero siim!
-Então vem. –Segurou a garota na mão do garotinho, puxando-o para si. Ao sentir aquela mão tocar a sua, ele teve a visão do prólogo de seu novo futuro. Era ela, era Ella! Era Ella!


Já era noite quando ele voltou ao parquinho. Uma noite invernosa com uma grande e gorda lua em que suas estrelas imprensavam-se umas com as outras para que pudessem ser reparadas, pelos homens, em meio à voluptuosidade da lua. Estava fisicamente sozinho, carregando consigo um carrinho de mão. Estancou-o defronte ao banco em que costumava se sentar. Posteriormente, já sentado nele, sentiu o estranho saber de estar revivendo algo, mas não por martírio, e sim por tentar encontrar novamente algo. Ironicamente fixou seu olhar na relva, não tinha o mesmo viço de outrora, mas sabia que isso era temporário. Nos tempos de colégio, ouviu falar sobre a vida dos servos medievais, de como as condições de cultivo da época exigiam deles um constante trabalho e cuidado, desde do cultivo até a colheita.Levantou novamente a cabeça, dessa vez deparou-se com os tijolos contidos em seu carrinho.Eram similar a um mosaico, partes visivelmente distintas de um artefato que se formaria.Levantou-se em direção ao carrinho, segurando-o com firmeza nos braços dele.Um súbito calafrio espalhou-se por seu corpo.Meu futuro, é o meu futuro. Sugado novamente por seus pensamentos, não percebeu a presença de um pássaro pousando em seu ombro. Aprender a lidar com os inescapáveis acontecimentos arbitrários que o ser humano é submetido em suas vidas. Não te preocupas, haverá sempre alguém para tratar com zelo dos teus calos, ao decorrer do caminho. Foram esses os pensamentos que precederam seu retorno a realidade, não se sabe se eles eram frutos de sua vertigem ou se eram, do pássaro.Pois quando ele despertara, o pássaro já havia voado.De uma coisa tinha certeza. Ao futuro.
Ao futuro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário