quinta-feira, 29 de julho de 2010

A confissão e sua consequente liberdade

Um só

eu sou de uma porção que nem pó
de uma porção de um só
sempre pra lá e pra cá
eu sou de um pedacinho de nada
de um pedacinho de cada dentro de tudo que há

aquele que na palavra entender
no nome não se prender
pode ver bem quem eu sou
mas quem no pé da letra cair
do nome não vai sair
porque no nome eu não estou

...

terça-feira, 13 de julho de 2010

Um, dois, três:

A simplicidade do gesto não o obstem da sua profundidade. Não há muito o que fazer, apenas se concentrar, inspirar fundo e fechar os olhos para um abissal e eufórico mergulho. Enquanto você penetra, como a um projétil, descortinando os fluídos existentes, a adrenalina te possui e, por conseqüência, o surreal deleite que ela te proporciona o faz pensar possuir uma superioridade- beirando a uma invencível altivez. É então que elas se abrem e você tem certeza de tudo isso. “Eu posso... eu posso voar!”, você repete freneticamente, abre os olhos para ver se tudo não passou de um sonho, ou, quem sabe, de uma ilusão. Contudo o lacrimejo em seu olhar, o pulsar quase explosivo do seu coração e a miríade de sensações que não cessam, mas que só tendem a se multiplicarem, te garante que é real- pois você as toca, você as sente e vive. A vida realmente é “algo que esta além do que possamos descobrir” e sempre devemos querer “descobrir tudo”, mesmo que não consigamos, mesmo que algumas experiências sejam amargas o suficiente para nos esmorecer. E caso isso aconteça, ao menos se teve, e, agora, se tem, “coragem para sorrir apenas por sorrir”.

Vive l'amour, Amelie





Sans toi, les émotions d'aujourd'hui me seraient que la peau morte des émotions d'autrefois.












Sem você, a emoção de hoje me seria pele morta da emoção do passado.

Marujo, se se pari a idade?

(Suprematism Contour Of Sportsmen, Kazimir Severinovich)


Não faço cerimônia
Não sou um bom partido
Tendo vários vícios
Posso causar desgosto

Sou o pervertido
Livre,leve e solto
O vagabundo astuto
O vira-lata escroto

Mas você pode se divertir
Mas você pode se divertir!

Eu não tenho regras
Eu não tenho destino
Vivo entre profanos
E anjos decaidos
Sou o cão devasso
Mundano e explosivo
Um pecador convicto
Um anti-herói vendido

Mas você pode se divertir
Mas você pode se divertir!

(Renato Godá - Bom partido)


Um eterno recorrente

Depois de um intervalo para refletir contundentemente “em si”, o que, para muitos, se não todos, embora pense que no fim de tudo sempre há aquela exceção democrática- parida pela forças da vida -, vai se caracterizando como mais uma banal interrupção devido a sua periodicidade já evidente, reincido para suscitar meus manifestos interioranos- e, por que não, humanistas? Para alguns- e quando alego isso, o faço de maneira indeterminada, afinal quem neste emaranhado oceano virtual não se consterna ao ancorar aqui (?) - há a necessidade de se ter algo contínuo em minhas atualizações, despojando então esse atributo sincopado. Mas informo-lhe, caro leitor, caso me ausenta os estudos, esmorecimento pessoal e a esbórnia, sobretudo, por tanto tempo, isto não depreende na minha nulidade criacionista e, por conseguinte, construtiva, muito pelo contrário. É durante esse ostracismo (voluntário) que vivo, corporificando novos manifestos- estes de predicado cada vez mais pluralista.

O papel carbono da psique

Nossa psique é engenhosamente intrigante e persisto, ainda, segundo os ensinamentos do pai da psicanálise, que a providência, ou, neste caso, o cotidiano, pode emaranhar cada vez mais um de seus peculiares trabalhos. Hoje eu sonhei como sonhara um fictício e morto marinheiro do amor, mas ao contrário dele, continuo a tentar entender ou, simplesmente, deixar pra lá a real motivação desse sonho desejoso e amargo- e talvez seja aqui que me contradigo-, fruto de enraizadas causas medíocres, e inatas a formação de qualquer indivíduo - pois nem só de grandiosidades vive o homem. Procuro não com minhas palavras explicitá-lo aqui, visto que esse mote é de grande enfado factual. O faço, então, através da sabedoria alheia, pois ela, sim, reflete com nitidez essa intangível natureza-quando passível a tradução.

Agora eu era o herói
E o meu cavalo só falava inglês
A noiva do cowboy
Era você além das outras três.

Eu enfrentava os batalhões
Os alemães e seus canhões
Guardava o meu bodoque
E ensaiava um rock para as matinês.

Agora eu era o rei
Era o bedel e era também juiz
E pela minha lei
A gente era obrigado a ser feliz.

E você era a princesa
Que eu fiz coroar
E era tão linda de se admirar
Que andava nua pelo meu país.

Não, não fuja não
Finja que agora eu era o seu brinquedo
Eu era o seu pião
O seu bicho preferido.

Vem, me dê a mão
A gente agora já não tinha medo
O tempo da maldade
Acho que a gente nem tinha nascido.

Agora era fatal
Que o faz-de-conta terminasse assim
Pra lá deste quintal
Era uma noite que não tem mais fim.

Pois você sumiu no mundo
Sem me avisar
E agora eu era um louco a perguntar
O que é que a vida vai fazer de mim.

Ainda sobre esse sonho e sua capacidade abrangente e digna ao pictórico de interferir na vida dos seus criadores, importa acentuar que o problema não seria um se ele permanecesse apenas no plano onírico. Sim, pois a tênue cortina que separa fantasia da realidade é nitidamente frágil em sua estrutura, mas nem por isso deixa de ser um crasso limiar do que nos pode ser abstrato, coerente e verídico. Assim refiro a propósito, mais uma vez, a providência. Não ela crua e pura, mas fundida embrionariamente com a tal fecunda e perigosa, a essa ocasião: a nossa psique. Ambas trazem consigo coincidências que só poderiam acontecer ficcionalmente, transcendendo com tragicidade para realidade. Depreende então ao criador decidir através do dilema, aceitar, ou ignorar, tal fenômeno. Caso aceite, caros leitores, não será nada menos que um emaranhado ritual repetitivo e previsível, o qual exponho abaixo segundo os versos alheios:

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir
A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague
Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague