sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

Eunice Kathleen Waymon



"Jazz é uma palavra branca para uma música negra." Com essa frase Nina Simone renegava o estereótipo de "cantora de jazz" dado às divas negras das décadas de 50 e 60 e ainda dizia muito sobre sua personalidade e seu estilo. A cantora morreu no dia 21 de Abril, aos 70 anos, em Paris.

Nina era especial na miríade de divas do jazz nos anos 50 e 60 por vários motivos. Um deles era a sua versatilidade.

Ela passeava com a mesma competência pelo jazz, soul, blues, gospel, canções tradicionais e pop. A sua interpretação, nem tanto pela técnica, mas pela emoção, poderia ser classificada como soul, dada a sua entrega às canções que interpretava.

De alguma forma, ela foi chamada "a maior pregadora do soul". Mas Nina também se distinguiu, durante toda a carreira, por ser uma das cantoras a encarnar com mais fervor a luta pelos direitos civis nos EUA.

Quando Martin Luther King morreu, ela cantou: "What will happen, now that the King of love is dead?" (O que vai acontecer, agora que o rei do amor está morto?).

O seu activismo político era consonante com a mulher que, vinha de uma família de oito filhos e queria sair da pobreza por meio da música. Na verdade ela começou a cantar para se sustentar, quase por acidente.

As suas melhores gravações foram feitas nos anos 60. Mesmo com material disperso, que ia das baladas francesas a canções políticas enfurecidas, o vocal temperamental - mas ainda assim elegante - revelava uma cantora independente e repleta de sentimentos.

A cantora deixa, entre lançamentos de estúdio e gravações ao vivo, quase 70 álbuns de uma carreira que durou 46 anos e que deixou marcas na música com um vocal intenso e passional, que poderia ser agressivo, triste, sofisticado e melancólico. A força da personalidade de Nina e mesmo o seu ecletismo mantiveram-na mais distante do público que as suas contemporâneas, mas o seu talento é comparado ao de Billie Holliday (considerada a maior intérprete de jazz de todos os tempos pelos críticos).

A sua morte encerra o ciclo das grandes cantoras negras do género. Hoje, o espaço é de nova geração de cantoras brancas que possuem técnica e elegância impecáveis, mas, inevitavelmente, menos potência vocal nas interpretações. Diana Krall, Jane Monheit e Norah Jones juntam-se a Dee Dee Bridgewater como referências do jazz contemporâneo, que nunca vai ser como os anos dourados de 50 e 60.

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