sábado, 19 de setembro de 2009

Imortal subversão no imaginário popular.


O povo encontrava-se inerte próximo ao mar das águas ibéricas, todos atônitos e sôfregos, olhando no cais a majestosa armada do nosso rei D. Sebastião que se direcionava rumo ao norte do continente Africano para os Mouros evangelizar e a gloria... Sim a glória, o esplendor de nosso povo que doravante iria calar o fragor do misterioso ultramar. O céu alaranjou-se em sua nuance doura e rubra, tão intenso e vívido que chegava a pressagiar... O nosso fim?


Nosso rei não veio, não retornou e ainda o esperamos aqui, neste cais em ruínas, atônitos e sôfregos, olhando o incomensurável oceano de águas não pacíficas, borbulhando o vazio e efervescendo a solidão. Um violão a soar, uma mulher com canto suave e melancólico, quase depressivo, como se da vida a tivessem tirado aquilo que lhe era mais precioso, e agora ela canta, tentando clamar para que ele retorne. Acompanhando-a estão dois homens, que juntamente com a narrativa desta, dialogam de forma hipotética sobre o passado e destino de nosso o rei, o grande e majestoso D. Sebastião.



Nosso rei foi se perder nas terras do mal passar
Deitam sortes aventura quem o havia de ir buscar
O cavaleiro escolhido não se cansa de chorar
Vai andando, vai andando sem nunca desanimar

Até que encontrou um mouro num areial a velar
Por deus te peço bom mouro, me diga sem me enganar
Cavaleiro de armas brancas se o viste aqui passar

Este cavaleiro, amigo, diz-me tu, que sinal traz
Brancas eram suas armas, seu cavalo era tremedal
Na ponta de sua lança levava um branco sedal
Que ele bordou sua noiva, bordado a ponto real

Este cavaleiro amigo, morto está nesse pragal
Com as pernas dentro d’água e o corpo no areial
Sete feridas no peito, cada uma mais mortal

Por uma lhe entra o sol, pela outra o luar
Pela mais pequena delas, um gavião a voar
Mas é engano do mouro, nós vamos no aliar
O nosso rei encantou-se, nas terras do mal passar
E um dia, no seu cavalo, nosso rei há de voltar.


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