domingo, 1 de maio de 2011

Pintura viva da manhazinha

Quando o canto oco da agulha do salto ressoava pela aquela grande casa, exprimindo um “toc-toc”, sempre em intervalos diminutos, era sinal que o sol já nascera. Com isso, todos se conscientizavam do dever de levantar. Lá estava ela pintada de sono. Pura, como se tive nascido com os primeiros raios de sol, reaquecendo a vida. De olhos semicerrados, relutando contra as pálpebras preguiçosas, mal acostumadas pelas longas horas de sono permitidas pela idade, seu vívido e suave rosto com as marcas do travesseiro, mesmo ela se movendo tanto durante o sono, o pijama, sem mangas e com ilustrações infantis, de tão grande mais parecia um vestido, acompanhando uma confortável calça de amarelas, vermelhas, laranjas e lilases listras horizontais, prendia em seus pequeninos braços sua companheira de pano. Ao me ver , converteu o presente estado para sua peculiar e transparente felicidade. Os olhos escuros transformaram-se no fascinante brilho de um eclipse, das bochechas brotou uma planície bulbosa que remetia a algodão, e a pequena boca se expandiu, descobrindo a alvura da felicidade só contemplada pelo sorriso desimpedido. Foi então que, de repente e para minha surpresa, ela correu."Toc-toc".A doce ingenuidade, usurpando, a cada passo vacilante, a maturidade alheia por cotidiana admiração. E quando eu a agarrei, ela me disse, acrescendo um eventual descaramento a sua travessa e cativante expressão, que tem medo de mim.

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