sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Coração Vagabundo (primeira parte)


Os raios da manhã invadiam o chão do apartamento, o que deixava mais claro e reverberante o rastro de podridão dos sibaritas em mais uma festa. Os convidados já tinham partido, mas a música permanecia em um novo ritmo, indo de acordo com o ato seguinte.

Meus olhos o crivavam de desejo, desbravando cada parte do seu corpo. Suas vestes só me davam mais excitação, pois assim eu podia pluralizar minhas sensações e fixá-los em minhas fantasias para aquele momento. Ele me retribuía o mesmo olhar, porém á sua maneira, de feições agressivas e predatórias, como se o “eu vou te destruir”, fosse o que seus olhos dissessem. E, se porventura os li de maneira correta, era exatamente isso o que eu queria.

Eu sabia que estava presa num redemoinho de passos mecanizados feitos por mim mesma, os quais não seguiram o comando e o discernimento de minha mente. Foi o desejo, a necessidade, o vazio, o nada, que parece só se expandir dentro de mim, mais e mais, o causador. Tudo isso me inquieta, me desestrutura em uma fragilidade a qual particularizo. A situação já tinha chegado a um patamar sem possibilidades de retroagir, e a única coisa que eu poderia fazer era lutar. Lutar por um pouco de prazer casual.

No entanto, eu tentei fugir. Fiz de propósito, pois sabia que ele, audaz, me bloquearia a qualquer custo e, quando o fizesse, estaria mais voraz e firme. Dessa maneira, eu finalmente poderia cansar dos joguinhos instigantes e me entregaria para ele. Sem receios, sem pudor e sem limites. Felinos durante seu coito, em que o macho conduz o posicionamento da fêmea quando a fricciona com suas longas e curvadas patas de unhas retráteis e sua fatal mandíbula, se pareciam conosco enquanto nossos corpos latejantes devoravam um ao outro com efervescência. Contribuíamos para emporcalhar cada vez mais aquele chão maculado. Por fim, queimaríamos esse nosso paraíso e seus vestígios matérias de mais um evento com causa comum e objetivo inalcançado. Assim, seriamos expulsos do suposto Éden, voltando a ser livres para disseminar e frutificar esse imperecível sentimento sibarita que nos é inerente.

Mas até quando, Alice... ?


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