sábado, 28 de março de 2009

O frívolo telefone da grave ligação



Semelhante a uma aranha cínica e imperceptível, tecendo com a paciente hipocrisia sistemática, o fio da navalha que eteriza a presa para o suplício da última baba de veneno. Pobre aranha, esquece-se que o homem a manteve viva para lembrá-lo sempre que no mundo há seres iguais a ela.


-Alô?

-Você não está chorando.

-Eu sei. Tá ocupada?

-Não, não. Esqueceu que agora eu sou uma mulher de-so-cu-pa-da!


-Você não seria capaz. Você é tão bondoso.

-Sei disso, mas você sabe que quando sou mal, sou o melhor.

-Eu sei.

-Mas não sinto mais esse impulso, pois acredito que cada ser humano da corda a sua forca.


-Maiiiinhaa! A senhora não vê que eu estou conversando no telefone?!

-Huuuummmmm!

-Eu disse a ela que prezava tanto pela sua felicidade e realizações que ela se espantou com o tamanho do amor que eu sentia por você. Repliquei que era igual com todos.

-Obrigado...


-Ela mudou muito. Sim, mas são fases que deixam seqüelas.

-E eu me preocupo tanto com ela lá, sozinha.


-Apenas esqueça. Não iluda a si mesmo.

-Eu sei.

-Tenho que ir. Liga pra mim depois?

-Sim. Tchau. Te amo.

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