AO LEITOR ............................................... 1 Capítulo I A liberdade .............................. 2 Capítulo II A perversão ............................ 3 Capítulo III A inocência ............................ 4
Capítulo IV O Monstro ............................. 5 Capítulo V diálogo com o espelho............ 6 Capítulo VI Não olhe para trás.................. 7
Ainda encontro-me aqui, naquela cinzenta estação de trem que os olhos captam e a mente enterra. Abandonei o banquinho, deixei-o para que os outros venham a usufruí-lo com prudência. Observo a geometria dos trilhos. De que devem ser feitos?Cobre ou aço?De ambos, quem sabe. Um olhar estático que nem o mais vivido analista saberia descrevê-lo. Sentado nesta plataforma, com os pés suspensos no ar, mergulhado num mar de incógnitas que se recusam a ser respondidas. Maldito Brejeiro! O que tu és em mim:
-Um garoto com pretensões de homem, ou um homem com a insegurança de garoto?Não posso deixar a correnteza invadir meu baú e expor minha zona abissal ao público, não dessa forma. Voltemos à estação.
Fito o meu relógio, bebo vinho, como queijo e a espero mudar de idéia. Anseio que o seu trem retorne que o seu sorriso possa recolorir esta estação que só reflete cinzas desde sua partida. Por que não se calam? Esses sapos figurantes que coaxam essa irritante coceira cognitiva: “O Sapo não lava o pé. Não lava por que não quer. Ele mora lá na lagoa, não lava o pé, por que não quer! Mais que chulé!”. Quando a emoção sobrepõe a razão é trivial que nasça a discrepância. É por isso que divinizo a Epifania. Deusa dos sonhadores que traz a balança para tal contrastante casal.
-Oh, Epifania!Ilumina com fendas de luz esse tenaz céu... Cinzento.
O ambiente não muda. Não caro leitor, não sou romanesco a este ponto. Sei o porquê de não vir as cores. Dizem que tenho medo. É fato. Desconheço esse universo que suicidou Romeu e Julieta. Eu sei minha garota tupiniquim, acredito que tenhas mudado de idéia e se teu trem não retorna, é por que eu ainda penso que a amo às vezes. Quanto a essa fúnebre atmosfera, rezarei uma missa e para esses sapos, moscas o serviram. Não preciso que eles me enfadem com algo já sabido.
Agora de pé em meu jardim. Sinto o aconchegante vento que precede o inverno. As folhagens dançam alegremente com o ar, transpassando com o seu alaranjado uma sensação cálida e inebriante. Todos convergindo em um só pensamento: É chegado o inverno.
Que estranho. Vivemos em um período de efervescência tecnológica e me encontro aqui, em pé, a escrever em um grande e pesado envelope, signos que serão encarregados de orientar o mortal Hermes de volta para o Olímpo. Minha mitologia é ornamental caro leitor e às vezes descongruente. Veja o Olímpo, por exemplo, não é uma montanha, mas sim uma torre. Torre branca, com azul alto de um amarelo característico. Lembro-me bem do pranto que surgira quando a vi, lágrimas escorriam do inverno coração aquecido pelo sol. Que lascivo... Atrevido!Meus olhos apenas viam aquela torre. O coraçãozinho que bate-bate, mas não para, agora bate forte, vívido, no dilema de "ser ou não ser”, mas a questão é: Sim, será enviado.
O sistema fora do ar?! Envio como carta simples?Sim, embora não se passe por sua cabeça, cara senhora, que de simplicidade nessa carta, só há o gesto de enviá-la.
Sai do prédio e olho pro céu, vejo esse sol que me persegue. Ponho meus óculos. Já disse que não quero encará-lo, não agora. Então o dilema me acompanha até a esquina e no virar do cone nos separamos. Mas eu ainda me pergunto: Será que meu envelope chegará ao Olímpo?E os deuses? Recuperaram a imortalidade que ainda não foi encontrada?Espero que Hermes ajude-os a encontrá-la, afinal o tempo para quem não é deus passa.
Ele altera o seu fluxo quando descanso nessas recentes memórias,bate mais forte,mais lento.Bate querendo não mais entender o que o perfurou,mas tentando aceitar essa cólera que se espalha.O corpo trêmulo, sucumbiu em lágrimas importunas para o meu império.E esses soluços que rebuscam o sofrer desse pobre coração que apenas sente falta de ti meu amor.