eu sou de uma porção que nem pó de uma porção de um só sempre pra lá e pra cá eu sou de um pedacinho de nada de um pedacinho de cada dentro de tudo que há
aquele que na palavra entender no nome não se prender pode ver bem quem eu sou mas quem no pé da letra cair do nome não vai sair porque no nome eu não estou
A simplicidade do gesto não o obstem da sua profundidade. Não há muito o que fazer, apenas se concentrar, inspirar fundo e fechar os olhos para um abissal e eufórico mergulho. Enquanto você penetra, como a um projétil, descortinando os fluídos existentes, a adrenalina te possui e, por conseqüência, o surreal deleite que ela te proporciona o faz pensar possuir uma superioridade- beirando a uma invencível altivez. É então que elas se abrem e você tem certeza de tudo isso. “Eu posso... eu posso voar!”, você repete freneticamente, abre os olhos para ver se tudo não passou de um sonho, ou, quem sabe,de uma ilusão. Contudo o lacrimejo em seu olhar, o pulsar quase explosivo do seu coração e a miríade de sensações que não cessam, mas que só tendem a se multiplicarem, te garante que é real- pois você as toca, você as sente e vive.A vida realmente é “algo que esta além do que possamos descobrir” e sempre devemos querer “descobrir tudo”, mesmo que não consigamos, mesmo que algumas experiências sejam amargas o suficiente para nos esmorecer. E caso isso aconteça, ao menos se teve, e, agora, se tem, “coragem para sorrir apenas por sorrir”.
(Suprematism Contour Of Sportsmen, Kazimir Severinovich)
Não faço cerimônia Não sou um bom partido Tendo vários vícios Posso causar desgosto
Sou o pervertido Livre,leve e solto O vagabundo astuto O vira-lata escroto
Mas você pode se divertir Mas você pode se divertir!
Eu não tenho regras Eu não tenho destino Vivo entre profanos E anjos decaidos Sou o cão devasso Mundano e explosivo Um pecador convicto Um anti-herói vendido
Mas você pode se divertir Mas você pode se divertir!
Depois de um intervalo para refletir contundentemente “em si”, o que, para muitos, se não todos, embora pense que no fim de tudo sempre há aquela exceção democrática- parida pela forças da vida -, vai se caracterizando como mais uma banal interrupção devido a sua periodicidade já evidente, reincido para suscitar meus manifestos interioranos- e, por que não, humanistas? Para alguns- e quando alego isso, o faço de maneira indeterminada, afinal quem neste emaranhado oceano virtual não se consterna ao ancorar aqui (?) - há a necessidade de se ter algo contínuo em minhas atualizações, despojando então esse atributo sincopado. Mas informo-lhe, caro leitor, caso me ausenta os estudos, esmorecimento pessoal e a esbórnia, sobretudo, por tanto tempo, isto não depreende na minha nulidade criacionista e, por conseguinte, construtiva, muito pelo contrário. É durante esse ostracismo (voluntário) que vivo, corporificando novos manifestos- estes de predicado cada vez mais pluralista.
Nossa psique é engenhosamente intrigante e persisto, ainda, segundo os ensinamentos do pai da psicanálise, que a providência, ou, neste caso, o cotidiano, pode emaranhar cada vez mais um de seus peculiares trabalhos. Hoje eu sonhei como sonhara um fictício e morto marinheiro do amor, mas ao contrário dele, continuo a tentar entender ou, simplesmente, deixar pra lá a real motivação desse sonho desejoso e amargo- e talvez seja aqui que me contradigo-, fruto de enraizadas causas medíocres, e inatas a formação de qualquer indivíduo - pois nem só de grandiosidades vive o homem. Procuro não com minhas palavras explicitá-lo aqui, visto que esse mote é de grande enfado factual. O faço, então, através da sabedoria alheia, pois ela, sim, reflete com nitidez essa intangível natureza-quando passível a tradução.
Agora eu era o herói E o meu cavalo só falava inglês A noiva do cowboy Era você além das outras três.
Eu enfrentava os batalhões Os alemães e seus canhões Guardava o meu bodoque E ensaiava um rock para as matinês.
Agora eu era o rei Era o bedel e era também juiz E pela minha lei A gente era obrigado a ser feliz.
E você era a princesa Que eu fiz coroar E era tão linda de se admirar Que andava nua pelo meu país.
Não, não fuja não Finja que agora eu era o seu brinquedo Eu era o seu pião O seu bicho preferido.
Vem, me dê a mão A gente agora já não tinha medo O tempo da maldade Acho que a gente nem tinha nascido.
Agora era fatal Que o faz-de-conta terminasse assim Pra lá deste quintal Era uma noite que não tem mais fim.
Pois você sumiu no mundo Sem me avisar E agora eu era um louco a perguntar O que é que a vida vai fazer de mim.
Ainda sobre esse sonho e sua capacidade abrangente e digna ao pictórico de interferir na vida dos seus criadores, importa acentuar que o problema não seria um se ele permanecesse apenas no plano onírico. Sim, pois a tênue cortina que separa fantasia da realidade é nitidamente frágil em sua estrutura, mas nem por isso deixa de ser um crasso limiar do que nos pode ser abstrato, coerente e verídico. Assim refiro a propósito, mais uma vez, a providência. Não ela crua e pura, mas fundida embrionariamente com a tal fecunda e perigosa, a essa ocasião: a nossa psique. Ambas trazem consigo coincidências que só poderiam acontecer ficcionalmente, transcendendo com tragicidade para realidade. Depreende então ao criador decidir através do dilema, aceitar, ou ignorar, tal fenômeno. Caso aceite, caros leitores, não será nada menos que um emaranhado ritual repetitivo e previsível, o qual exponho abaixo segundo os versos alheios:
Amou daquela vez como se fosse a última Beijou sua mulher como se fosse a última E cada filho seu como se fosse o único E atravessou a rua com seu passo tímido Subiu a construção como se fosse máquina Ergueu no patamar quatro paredes sólidas Tijolo com tijolo num desenho mágico Seus olhos embotados de cimento e lágrima Sentou pra descansar como se fosse sábado Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago Dançou e gargalhou como se ouvisse música E tropeçou no céu como se fosse um bêbado E flutuou no ar como se fosse um pássaro E se acabou no chão feito um pacote flácido Agonizou no meio do passeio público Morreu na contramão atrapalhando o tráfego
Amou daquela vez como se fosse o último Beijou sua mulher como se fosse a única E cada filho como se fosse o pródigo E atravessou a rua com seu passo bêbado Subiu a construção como se fosse sólido Ergueu no patamar quatro paredes mágicas Tijolo com tijolo num desenho lógico Seus olhos embotados de cimento e tráfego Sentou pra descansar como se fosse um príncipe Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo Bebeu e soluçou como se fosse máquina Dançou e gargalhou como se fosse o próximo E tropeçou no céu como se ouvisse música E flutuou no ar como se fosse sábado E se acabou no chão feito um pacote tímido Agonizou no meio do passeio náufrago Morreu na contramão atrapalhando o público
Amou daquela vez como se fosse máquina Beijou sua mulher como se fosse lógico Ergueu no patamar quatro paredes flácidas Sentou pra descansar como se fosse um pássaro E flutuou no ar como se fosse um príncipe E se acabou no chão feito um pacote bêbado Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado
Por esse pão pra comer, por esse chão prá dormir A certidão pra nascer e a concessão pra sorrir Por me deixar respirar, por me deixar existir, Deus lhe pague Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair, Deus lhe pague Pela mulher carpideira pra nos louvar e cuspir E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir, Deus lhe pague