Semelhante a uma aranha cínica e imperceptível, tecendo com a paciente hipocrisia sistemática, o fio da navalha que eteriza a presa para o suplício da última baba de veneno. Pobre aranha, esquece-se que o homem a manteve viva para lembrá-lo sempre que no mundo há seres iguais a ela.
-Alô?
-Você não está chorando.
-Eu sei. Tá ocupada?
-Não, não. Esqueceu que agora eu sou uma mulher de-so-cu-pa-da!
-Você não seria capaz. Você é tão bondoso.
-Sei disso, mas você sabe que quando sou mal, sou o melhor.
-Eu sei.
-Mas não sinto mais esse impulso, pois acredito que cada ser humano da corda a sua forca.
-Maiiiinhaa! A senhora não vê que eu estou conversando no telefone?!
-Huuuummmmm!
-Eu disse a ela que prezava tanto pela sua felicidade e realizações que ela se espantou com o tamanho do amor que eu sentia por você. Repliquei que era igual com todos.
-Obrigado...
-Ela mudou muito. Sim, mas são fases que deixam seqüelas.
-E eu me preocupo tanto com ela lá, sozinha.
-Apenas esqueça. Não iluda a si mesmo.
-Eu sei.
-Tenho que ir. Liga pra mim depois?
-Sim. Tchau. Te amo.